segunda-feira, 21 de setembro de 2009



Em 2008, não sei precisar o mês, um grande amigo, companheiro de cursos e de algumas produções, contou-me sobre o projeto que sonhava para a conclusão de sua jornada universitária: um curta metragem oriundo de uma adaptação dos quadrinhos.

Até então sugeri-lhe HQs, emprestei obras e ofereci apoio. Testemunhei elucubrações, planejamentos frustrados, expressões de ansiedade, preocupação e medo.
Então, há pouco mais de um mês chegou um “AGORA VAI” na minha caixa de e-mails e meio que sem querer querendo protagonizei uma das melhores experiências da minha vida.

Estou falando de “Um Catálogo de Sonhos”, curta metragem do gênio neonato Micael Bretas, adaptada da HQ homônima de José Carlos Fernandes.
Promessa de grandes realizações, o obstinado Micael foi capaz não só de mobilizar família e amigos em prol de um objetivo comum, mas de capitalizar talentos num parto coletivo de uma obra cinematográfica.
Ao longo do processo neste um mês e meio, elementos impensáveis para uma modesta produção de guerrilha, mero TCC, mostraram-se interessantemente realizáveis.
Eu, paulista morando há 32 anos em São Paulo, até então nunca visitara o interior do monumento no marco zero da cidade. Durante as filmagens, além de testemunhar uma missa em latim com cantos gregorianos e etc., participei das gravações dentro da cripta da Catedral da Sé, na companhia dos senhores Regente Feijó e Cacique Tibiriça.

Dormi no alto da torre de uma igrejinha em Serra Negra, conheci as instalações desativadas de uma casa de detenção, tremi com o frio da madrugada nos telhados das industrias Selamil, corri e saltitei freneticamente nos estúdios de cromaqui da TV PUC, ...
Enfim, aprendi que mesmo longe de Hollywood, sem apoio do governo ou de empresas multimilionárias, mas com esforço, bons amigos e uma mãe dedicada é possível fazer cinema de qualidade e conteúdo.
É preciso nomear os méritos de equipe e elenco: as dinâmicas produtoras Marcela e Marilia; o irreverente assistente de produção/direção Thiaguinho; o homem do som e de boas histórias Cezar Babosa; a altiva assistente de arte e continuista Carla; a fotógrafa de stills e apoiadora Fernanda; e Débora, incondicionalmente e imprescindível mãe.

Tive a honra de contracenar com um elenco de notáveis: o renomado ator, diretor e roteirista Maurício Guilherme; o ator e locutor pioneiro das net-novelas Manoel Lima; o grande ator de comerciais e humorista André Jurado; o dedicado ator e promotor de eventos Fabiano Martins; e as gratas surpresas vindas direto da USP, David Mathieson (ator e sociólogo) e Bruno Costa (ator e geógrafo).


É claro que faltaram lencinhos umedecidos e massagistas tailandesas, mas tirando isso, foi uma produção excelente, acima do que qualquer um poderia imaginar. Orgulho-me imensamente de fazer parte dessa equipe e agradeço infinitamente a oportunidade.

Breve, Um Catálogo de Sonhos, num cinema perto de você!!!

domingo, 22 de março de 2009


Trevas.
Até onde podia perceber tudo o que o envolvia era a mais pura escuridão de adoecer almas.
Total inconsciência.
Um fecho de luz se projetou no extremo oposto e seu coração começou a tremer de expectativas.
A parede, outrora retrato da ignorância, agora recebia um banho de luzes e sombras donde se podiam decifrar formas e distinguir imagens.
Os primeiros estampidos de som o fizeram estremecer na cadeira e já podia compreender que uma experiência inédita se formulava.
Não havia outra saída a não ser se render.
E após os primeiros trailers o que experimentou foi um banho de sensações e emoções somente proporcionado pela magia do cinema.

Muitos já fizeram a conexão entre o cinema e a psicologia. Não há como deixar de comparar a própria sala de exibição com a mente humana. O escuro misterioso donde imagens e acontecimentos vêm à tona. Onde o inconsciente é projetado na tela da consciência revelando processos e desencadeando catarses.
Psicólogo por formação, educador por natureza, ator por teimosia, escritor por necessidade e cineasta por paixão, é essa fronteira que venho desbravar.
A conexão cinema-psicologia e tudo que puder extrair dessa revelação.

Lanço-me no universo da cinematografia e espero trazer algo que seja novo também para o público em geral ou àqueles que se puderem beneficiar das armadilhas da sincronicidade.
Ou porque será que você está lendo isto afinal???
Exorcisando The Spirit



O Spirit que conheci é próprio dos anos 40. Não havia o politicamente correto e as histórias eram permeadas de inocência.

Spirit enfrentava sim seus inimigos só com os punhos e suas roupas acabavam sempre rasgadas, mas era também dotado de inteligência e jamais despejava violência gratuitamente.

Admiro Frank Miller. Venero seu Cavaleiro das Trevas, mas devo admitir que concordo com Allan Moore quando diz que só HQs ruins dão bons filmes.

Na recente versão de The Spirit, não consigo identificar onde Miller errou mais. O roteiro é fraquíssimo, subestimando a inteligència do espectador. As atitudes do personagem principal beiram o ridículo com violência em exagero, seus galanteios esnobes e a desnecessária narração.
O diretor parece fazer uma micelânia de Sin City com o Chaves do SBT.
O filme em si se arrasta num cansativo tédio, melhorando pouco no final. O que mais vale é o desfile de beldades em pouca roupa, e a participação consistente de Dan Lauria (o pai do Kevin Arnold da série “Anos Incríveis”) como chefe de polícia.
Muito do que Eisner proporcionou em sua colaboração para o mundo do cinema (todo bom cineasta já leu “Narrativas Gráficas” ou “Quadrinhos e Arte Sequencial”) fica perdido nessa pseudo homenagem, restando apenas alguns enquadramentos que lembram a visionária perspectiva do mestre.

De repente seja mais interessante a adaptação feita para TV em 1987, dirigida por Michael Schultz e estrelada por Sam J. Jones. Esta sim, parece-me preservar mais o “espírito” do personagem, entende.

Para os curiosos indico também uma adaptação brazuca, abençoada pelo próprio Will Eisner, de um dos contos de The Spirit, 'The Story of Gerhard Shnobble'. O curta metragem “Geraldo Voador” dirigido por Bruno Vianna. Vale dar uma espiada.