sábado, 24 de dezembro de 2011

Amor Neurótico X Amor Maduro

Grouxo Marx disse: “Eu nunca faria parte de um clube que me aceitasse como sócio”.

Esta me parece a melhor definição de neurose.

A neurose é a doença psicológica que nos faz humanos. Todo ser humano dito normal é, no mínimo, um neurótico.

Alguém já conseguiu curar-se de todas suas neuroses? Talvez os iluminados, aqueles que transcenderam o ego infantil e influenciável com o qual tendemos nos guiar.

O pior da neurose está na forma como conduz nossas relações. O amor infantil, daquele que projeta no outro a origem dos seus problemas e espera do outro todas as soluções e respostas.

Na neurose, somos dependentes, irresponsáveis e imaturos. A culpa está lá fora. O governo, a família, o sistema, a sociedade. A culpa é dos pais. A culpa é de Deus. Por que ele não fez um mundo perfeito?

Imagine engendrar um relacionamento, tentar amar, com essa mentalidade. Qualquer resultado só pode ser catastrófico, pois na neurose somos infantis e projetamos no outro tudo. Iludimo-nos com a idéia de fazer tudo pelo outro na eterna espera de que o outro supra nossas mais secretas necessidades.

Na Neurose não existe amor próprio. Não há auto-estima. Por isso quando o outro diz que te ama, você não acredita. Como alguém pode amar uma criatura como você???

Daí a necessidade eterna de testar este dito amor. Começam os jogos neuróticos. Você se doa e espera doação extrema. Mas sem nunca ter definido antes as regras de conduta com seu parceiro. Falamos meias palavras, insinuamos, e esperamos compreensão plena.

Como algo assim pode “dar certo”?

Alguns filmes me vêm à memória para ilustrar o que digo.

No francês “Me diz se sou bonita” (J´me sens pás belle - 2004) vemos uma jovem digladiando-se contra seus próprios pensamentos e crenças na tentativa de uma noite de paixão com um colega de trabalho. Chega a ser engraçado ver suas ações conduzidas pela visão negativa que tem de si mesma.

Na neurose, não existimos para nós mesmos. Precisamos do aval do outro para crer que existimos. Então sacrificamos nossa natureza, vestimos um personagem que, cremos, irá agradar ao outro. Esse processo tende a se iniciar na infância quando buscamos a aprovação e a atenção dos nossos neuróticos responsáveis. E assim permanecemos nos relacionamentos, apesar da aparência adulta. Filho de neurótico, neuroticuzinho é!

“Em busca do prazer” (The OH in Ohio - 2006) dá um passo adiante exibindo as influências da neurose na sexualidade humana. O neurótico almeja ser a fonte de prazer infinito do seu parceiro e espera dele, no mínimo, o mesmo. Mas sem nunca falar da relação como uma troca lúcida/lúdica. Vemos a personagem de Parker Posey na sua epopéia em busca do orgasmo pleno, enfrentando suas neuras, amadurecendo e se assumindo como mulher merecedora de prazer. Rimos de suas tentativas e gozamos com sua coragem.

Muitos desistem da busca de felicidade nos relacionamentos e acabam migrando para um estilo de vida monástico, isolado, distante, às vezes celibatário, mas quase sempre falsamente maduro.

“Amor sem escalas” (Up in the air - 2009) foi um dos filmes que mais me surpreendeu nos últimos tempos. Vemos George Clooney atuando como um consultor que demite funcionários para empresas por toda América. Na verdade há toda uma mística arquetípica travestida de modernidade. A personagem de Clooney age como um monge missionário, eremita-andarilho, engendrando uma filosofia quase budista de desapego. Nas horas vagas palestra sobre o essencial a se levar numa mochila. Em certo ponto encontra uma discípula no melhor estilo padauan de Star Wars. E como todo buscador espiritual, almeja a iluminação, o encontro do santo graal, o cartão vip ouro daqueles que atingem o número máximo de milhas de sua companhia aérea. Seu derradeiro encontro com o comandante da aeronave remete aos encontros místicos com os sábios ocultos, quando ganhamos o direito de fazer a pergunta crucial de nossas vidas. E vemos mais um bobo que, como todo neurótico, sonha com uma vida perfeita de comercial de margarina. E assim o filme nos deixa, às portas da saudável e necessária desilusão, remédio doloroso mas necessário para aquisição da maturidade.

E finalmente uma pérola recente, adaptada da linguagem de vídeo-game e dos quadrinhos: “Scott Pilgrim contra o mundo” (Scott Pilgrim VS. The world - 2010). Vemos um jovem que amadurece e desenvolve suas habilidades ao longo da jornada pelo amor de uma garota, enfrentando seus letais ex-namorados. A linguagem é quase didática. A cada superação, uma nova fase. E no final, só a auto-estima pode ser a chave para um verdadeiro amor.


Pessoalmente, ainda estou engatinhando em matéria de amor. Mas sou capaz de traçar algumas compreensões.

Só aquele que realmente se ama pode amar ao próximo.

Um amor que exige provas não pode ser um verdadeiro amor.

O amor verdadeiro liberta. O amor verdadeiro faz bem. Se você se sente mal ou preso, não sente amor. Sente carência.

Quem nos completa somos nós mesmos. O outro é apenas um companheiro de viagem, alguém com quem compartilhar sentimentos e experiências.

Amar é trocar bênçãos.

Um amor maduro não segue regras lógicas. Por isso é incomparável e novo a cada instante.

E definitivamente quero estar em um clube em que sou aceito do jeito que sou. O clube da auto estima.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011


No fim do Arco-Íris

Todo mundo já ouviu aquele história de que no fim do arco-íris existe um pote de ouro. Não sei qual a origem deste mito, mas pergunto: Você já alcançou alguma vez o fim de um arco-íris?

A física explica a formação deste fenômeno como a refração da luz do sol em gotículas de água das nuvens ou da chuva, como se a água formasse um cristal na qual a luz branca incide, decompondo-se nas famosas sete cores. O arco-íris não deixa de ser um fenômeno de projeção de luz. Por mais que tentemos perseguir o seu local de inicio ou de fim, não se trata de algo exatamente tangível, ainda que a definição de luz seja controversa para aqueles que não são iniciados nos mistérios da física. Luz é definida como um não sei o que entre a matéria e a energia: os fótons.

Quanto mais você persegue o arco-íris, mais ele se distancia. Muitas vezes se desfaz, revelando-se uma projeção ou uma ilusão. E nada de pote de ouro.

Semelhante é nossa busca pelos tesouros da vida. Desde cedo, educação, pais, escola, mídia e sociedade nos propõe a busca de certos objetivos considerados importantes para um ser humano se realizar. Um bom emprego, conseguir se sustentar, encontrar a cara-metade, constituir família, enriquecer, prosperar, carro do ano, casa na praia, TV de plasma e tablets e vídeo-games para as crianças no natal.

Há sempre um tesouro a alcançar. Mas por mais que nossos objetivos sejam conquistados, após uma momentânea alegria, surge um algo mais. E reiniciamos a jornada até o fim do arco-íris.

Muito na filosofia já se falou da eterna busca. Há essa permanente sensação de que sempre nos falta algo. Mudamos o cenário, trocamos os objetos de desejo, mas a busca nunca para.

Freud dizia que a sensação de completude e conforto só existia no calor do útero materno. Após o trauma do nascimento somos condenados a uma aflitiva sensação de incompletude e, por mais que caminhemos, não há retrocesso nem retorno ao ventre. Saímos do útero da mãe com apenas um destino certo: o útero da terra.

Para os budistas, falando de forma simplista, sofremos porque desejamos. Eliminem os desejos, e os sofrimentos desaparecerão.

Daí a idéia do Nirvana, como renuncia aos desejos, focando numa elevação espiritual, aí sim, repleta de completude. O pote de ouro dos budistas tende a ser transcendental, talvez tão etéreo quanto o arco-íris.

Recentemente concluí a leitura da obra “Consciência Cósmica”, de autoria do médico canadense Richard Meurice Bucke. Foi interessante a maneira sincrônica como cheguei à ele. Boa parte da leitura realizei sob a benção de uma praia paradisíaca.

A versão que encontrei é uma primeira versão de 1996 editada pela AMORC. A primeira edição Americana data de 1901 e o autor viria a falecer um anos depois, ou seja, antes do entendimento de conceitos como Self e inconsciente coletivo.

Dr. Buke foi psiquiatra, dirigente de um sanatório e grande amigo do poeta americano Walt Whitman, de quem teria escrito uma biografia.

O saudoso doutor aborda de maneira bastante científica um fenômeno que experienciou pessoalmente: a consciência cósmica.

Descreve como uma sensação de banho em luz e calor, como um fogo, seguido de sensação de bem estar, convicção de eternidade da vida e conexão com todos os entes do universo.

A experiência foi-lhe tão arrebatadora que percebeu a necessidade de pesquisar e esquadrinhá-la numa obra, onde inicia por estabelecer sua tese evolutiva, aos moldes do conceito darwinista, de que todos os seres humanos, assim como passaram da consciência simplista para a autoconsciência, também passarão da autoconsciência para a consciência cósmica.

Daí faz um estudo de diversos casos de pessoas notáveis que, por sua análise, considera detentores ou experienciadores da nova faculdade, passando por nomes como Buda, Cristo, Paulo, Maomé, até Dante, Sheakspeare e o próprio Walt Whitman.

Ressalta ainda a apreciação que as filosofias orientais sempre dispensaram a tal fenômeno, tão pouco aludido nas ciências ocidentais. Em particular, as buscas dos yoges e budistas do estado de Nirvana. Por exemplo, notando como característica de alguns dos casos estudados, que o fenômeno de consciência cósmica é muitas vezes precedido de um estado de silencio mental. Daí a procura da meditação como caminho para muitos sábios, a fim de se criarem condições propícias para o fenômeno.

Fiquei sensibilizado com a profundidade e coerência de seu texto, principalmente em se tratando de um estudo datado de mais de um século.

O que tem isso a ver com o pote de ouro no fim do arco-íris?

Percebo que se há um objetivo pelo qual realmente valha à pena caminhar, a expansão de consciência é esse objetivo, e a experiência de consciência cósmica é a cereja do bolo.

Mas nosso doutor faz o favor de lembrar a aparente espontaneidade do fenômeno nos casos estudados. Ou seja, não é você que chega à consciência cósmica, mas a consciência cósmica que se derrama sobre você.

Assim como Buda sob a figueira ou Cristo no deserto. Fecha teus olhos, senta-te sobre teu próprio ser, relaxa, respira e contempla então o tesouro que esteve o tempo todo dentro de ti. E ao abrir os olhos rejubila-te com o arco-íris ao teu redor.


segunda-feira, 5 de setembro de 2011


3 véias de arrepiar

Tive a mágica experiência de assistir à peça “As Três Velhas” neste domingo. Já há algum tempo venho me embrenhando no prolífico universo das criações de Alejandro Jodorowsky e já escrevi aqui que não queria perder a oportunidade de ver essa peça, mas não poderia imaginar que fosse tudo tão intenso e profundo.

O estreito espaço do Galpão de Folias se transforma num útero acolhedor para uma revelação impactante. Somos confrontados com nossas máscaras e neuroses, brindados com a possibilidade de uma vida natural, onde os milagres acontecem quando aceitamos ser nós mesmos, com todas as aparentes idiossincrasias, sem julgamentos e condenações.

Congratulações ao elenco, à direção primorosa e às corajosas e despojadas interpretações. O que presenciei não foram simples atuações, mas a doação de corpo, voz e espírito, que não poderiam ser encaradas por qualquer um.

Maria Alice Vergueiro, Danilo Grangheia e principalmente Luciano Chirolli, nos impressionam.

Além de tudo há a simpatia da produção.

Eu vinha planejando assistir ao espetáculo sozinho, imaginando que não encontraria companheiros dispostos a encarar algo que muitos considerariam no mínimo inusitado. Mas de forma imprevista acabou que compartilhei a experiência com meus pais e meu grande amigo Luciano. Para todos nós foi um acontecimento marcante, denso e positivamente transformador.

Minha mãe abraçando Luciano Chirolli (Melissa)

Super recomendado. Apressem-se, pois é a última semana:


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Minhas Férias

Quando era pequeno, todo retorno às aulas era acompanhado por uma redação com o título acima. Até hoje creio que professores estressados cobram o mesmo tema.

Tive 15 dias de férias e uma semana em Arraial d’Ajuda (BA) que foi quase o equivalente a um mês de aventura. Há certos lugares da Bahia que, quando visitados em estado de espírito favorável, funcionam como um portal para o paraíso. E assim me senti.

A começar por minha proposta inicial, de uma jornada quase iniciática, só, munido apenas de um exemplar de sebo do Consciência Cósmica, minha câmera fotográfica e meu diário de viagens.

Tive a sorte de um quarto sossegado na modesta e quase familiar Pousada do Xão. Nos primeiros dias aventurei-me a pé pela orla, primeiro até a praia do Taipe, nas falésias ao norte, e depois na ponta da praia, Apagafogo, ao sul. Creio que a caminhada na areia fez bem aos meus pés. A paisagem e a solidão alimentaram-me o espírito.

Os passeios oferecidos pelas companhias de turismo são os mesmo de quem se hospeda em Porto Seguro. Já tinha feito quase todos numa outra viagem ao distrito mais agitado, há uns seis anos. Optei por uma única aventura na praia do Espelho pela Fascinio Tur. Uma praia deserta onde um pequeno rio cristalino se encontra com as águas do mar.

Quando criança, fui surpreendido certa vez por algo marrom me perseguindo nas águas da Praia Grande. Desta vez, durante um mergulho na praia do Espelho, notei algo marrom e oval ao me lado. Pensei ser uma casca de arvore, quando de repente surgiu uma cabecinha marrom, com uma circunferência branca ao redor dos olhos. Uma mágica tartaruga marinha que me espiou e retornou aos seus afazeres no reino dos mares. Senti-me abençoado.

Em Arraial existe uma charmosa rua repleta de restaurantes. A rua do Mucugê tem opções para todos os gostos, sorveterias, casas com música ao vivo. A maioria chefiada por gente de fora. Os preços são relativamente caros, mas não absurdos. Porém, certa noite, perambulando pelo centro do distrito, deparei-me com um modesto restaurante chamado PF do Paulo Pescador. Apenas R$20,00 reais o prato, pagamento só em dinheiro ou cheque. Mas o tempero caseiro, a comida servida em cumbucas de barro, a simpatia dos proprietários, torna tudo mágico. E ainda havia Cerveja Original, a – 4o C. A chef, Sra. Yonala, e sua filha Nathalia, brindaram-me com uma gostosa conversa ao fim da refeição. Mais uma benção.

Na 5ª feira, como já é tradição na pousada, Sr. Xão organizou um churrasco ao estilo gaúcho para favorecer a interação entre os hóspedes e até alguns locais. Foi quando resolvi sair um pouco da minha proposta de solidão, e conheci pessoas maravilhosas. A começar pelos espirituosos mineiros Dilo e Gilson, uma dupla dinâmica e aventurosa. Conheci também Sr. Sérgio, um autêntico pirata mineiro cuja falta de uma perna jamais o impediu das mais fantásticas epopeias. E também uma família de Atibaia, assíduos frequentadores do saudoso Bar do Alemão, Sra. Denise, o pequeno Pedro, o Fera, e o benzedor Fernando, a quem não se pode dar outro título que se não o de verdadeiro Amigo.

Mas foi na 6ª feira, já as vésperas do fim dessa viajem, que uma força me levou até a cabana zen Flor do Sal, na praia do Pitinga. Conheci o casal de Campinas, Luis e Eliana, e pude estreitar laços com a espontânea tia Margareth e a inesquecível fada Taís. Formou-se um grupo bastante pitoresco, numa paisagem arrebatadora, duma tarde de delícias e uma noite de extraordinárias surpresas.

Não tive vontade de voltar. O clima, a paisagem, as pessoas. Somando-se às revelações de uma leitura elucidativa. Estou transformado. A palavra que me vem à mente para sintetizar tudo é Benção. Sinto-me divinamente abençoado.

Assista no You Tube (antes que censurem).


Meu próximo destino: Porto Alegre !?


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Decepção em super 8

Assisti Super 8 e saí de lá sentindo-me meio que enganado.

Se você ainda não viu ao filme, pare por aqui se não terá sua surpresa estragada. Enfim...

Nas duas ultimas semanas surgiram dezenas de artigos celebrando a união de J. J. Abrams com Steven Spielberg, como um dos acontecimentos mais importantes do cinema deste ano, comparando o filme, dirigido pelo primeiro e produzido pelo segundo, a clássicos dos anos 80 como The Gooinies e ET, o ExtraTerrestre.

A campanha de marketing foi maciça e o trailer prometia.

A história básica é simples. Um garoto que recentemente perdeu sua mãe de forma trágica se envolve na produção de um filminho de zumbis dirigido por seu melhor amigo. Os garotos usam uma câmera super 8 para gravar suas cenas e acabam involuntariamente registrando um acidente de trem das forças armadas americanas, de onde escapa um ser misterioso.

Pessoas começam a sumir, acontecimentos estranhos e adivinha?? O ser era um ET confinado pelo exército que no fundo só queria voltar para casa (“ET telefone casa”).

Para dar pistas da história J.J. usa recursos já empregados na série LOST, como os filmes perdidos da Iniciativa Dharma. Há alguma tentativa de se criar o espírito de grupo como o que existe entre os garotos dos filmes Goonies e ET, mas não convence. Os personagens secundários, os outros garotos, são pouco explorados. O diretor optou por centralizar a trama no drama do garoto órfão tentando superar a perda da mãe e retomar contato com seu pai. Toda a aventura fica realmente em segundo plano e novamente surge o super 8 para nos dar alguma dimensão de sua perda, mostrando-nos cenas caseiras da mãe querida.

Outra coisa pouco explorada parece ser o universo feminino. A principal personagem feminina é a namoradinha do garoto. Super 8 talvez tente ser um filme para meninos, um clube do bolinha que começa a mudar com a chegada da puberdade. Repetindo outro filme seu, vemos o garoto empenhando em resgatar sua amada, atravessando uma cidade em estado de calamidade, quase igual a Cloverfield.

E na hora mais derradeira, quando o monstro alienígena finalmente o alcança, prestes a despedaçar todos pela frente, nosso herói faz uso da arma mais letal de todas: o olhar do gato de botas do Shrek. Aí o monstro desiste de persegui-los, termina de construir sua nave e vai embora. Mas há uma explicação para isso. Nosso monstro faz um tipo de telepatia ao toque, ou empatia,enfim, mas é capaz de entender e se comunicar ao tocar. Pena que não teve piedade das pessoas que comeu ao longo do filme. Afinal, o ET era bonzinho, o exercito americano que é malvado.

Este enfrentamento do “monstro” é a simbolização de um fenômeno psicológico interessante. O que é o monstro? Recentemente venho aprendendo que muitas vezes conteúdos psicológicos e emocionais mal trabalhados, ou até características pessoais negadas, podem se manifestar em nossa vida cotidiana de forma mórbida, monstruosa, a fim de fazer notar o que precisa ser revisto e ressignificado. Isso é nítido em filmes de vampiro e lobisomem onde a sexualidade negada ressurge na forma de lobos ou seres sugadores repletos de sensualidade. Precisamos lembrar que Bram Stoker viveu na repressora era vitoriana. Acho até que se a Bela finalmente liberasse geral não haveria tantos vampiros e lobisomens na série Crepúsculo.

Em todo filme de monstro que se preze há essa simbologia de ressignificação do mal manifestado, a partir do enfrentamento. Afinal, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Quanto mais tarde enfrentar o monstro, mais estrago ele causa. E o que é o monstro? Um parte de mim que eu neguei, geralmente devido alguma idealização imposta. Assim, a cultura americana continua idealizando seu modo de vida, apostando tudo no consumismo como fuga. E os monstros vão surgindo aos montes para nos lembrar de nossa humanidade perdida.

Acho que estamos tão carentes de produções mais profundas que acabamos superestimando filmes pequenos. Super 8 é só mais um blockbuster com quase nenhuma originalidade. Até a propaganda do walkman da sony soou estranha. Sou muito mais o IT:

Sou nostálgico e valorizo aquilo que faz sentir-me bem:

E para quem gosta de gatos:

Não vejo a hora de assistir esse!!

sexta-feira, 24 de junho de 2011


De tudo um pouco

Recentemente me falaram do jovem Matias de Stefano e aconselharam-me a procurar seus vídeos no You Tube.

Encontrei o vídeo abaixo com mais de uma hora de duração. Solicito que você se dê um tempo e assista ao vídeo antes de continuar a leitura que segue. Pode continuar sem assisti-lo, mas poderão faltar peças para entender o que quero dizer.

Em primeiro lugar é preciso dizer que o leigo pode se impressionar com as informações passadas, acatando-as sem uma analise mais profunda, ou simplesmente descartando-as, classificando-as como besteirol esotérico.

Nem tanto o céu nem tanto a terra. Vamos examinar um pouco.

Matias de Stefano alega ser um recordador, que desde a infância tem lembranças espontâneas de suas vidas passadas e dos períodos entre-vidas, acessando inclusive os ditos arquivos akashicos. Diante desta faculdade (que a princípio quase o enlouqueceu) propõe-se a propagar o que lembra, tentando explicar as questões básicas dos seres humanos (quem somos nós, de onde viemos, pra onde vamos, etc.).

O fenômeno em si, de rememorar situações de outras vidas, ainda é bastante controverso. Há diferentes perspectivas que incluem até alucinações induzidas. Para conhecer este fenômeno, especificamente, recomendo os filmes “Minha vida na outra vida” e “Manika, a menina que nacseu duas vezes”.

O discurso de Stefano não é nada novo para aqueles que se dedicaram a algum estudo dos “mistérios”. O problema é que em cerca de uma hora, o vídeo aborda tantos assuntos, de forma tão superficial, que quase vira uma salada.

Fala-se por exemplo numa tentativa de unir ciência e religião. A coisa é polemica demais e demandaria vários artigos. Na intenção de não ser leviano prefiro, por hora, apenas recomendar os filmes “Quem somos nós” e o díptico “Quem somos nós – Pela toca do coelho”.

Outro assunto que classifico na onda da panacéia esotérica é o das “crianças índigo”. Para mim uma teoria quaquaquá, xarope, usada também de forma leviana por muita gente, incluindo famílias negligentes.

As “origens das almas” e outros assuntos por ele abordados, já são muito próximos do plano das crenças. Muitas filosofias e ordens espiritualistas assuntaram sobre isso antes, de forma muito mais organizada.

Mas há pontos em que encontro coerência no discurso do rapaz, apesar de não encontrar novidades. Falo da necessidade de uma nova pedagogia. Vivemos nos últimos cinqüenta anos tantas mudanças que não há cabimento em manter um paradigma de ensino ultrapassado, baseado ainda em salas de aula, lousas, giz e professores. E percebo que nosso filosofo e educador Rubem Alves trata lindamente do assunto na companhia do provocador no vídeo abaixo:

Ao mesmo tempo, fico indignado com o caminho a percorrer para se atingir uma nova educação, ao ver o plano atual:

(Faz tempo que eu queria fazer algum comentário sobre essa corajosa professora).

Continuando, Stefano vem trabalhando numa proposta de uma nova educação, que me parece bastante louvável.

Também vejo coerência na sua analogia da humanidade com as árvores, mas novamente, não vejo novidade.

A árvore vem sendo usada há muito tempo para essa simbologia de conexão, que remete também aos milenares trigramas chineses do I ching, em que se vê o ser humano na intersecção entre as forças da terra e do céu.

Assim como não seria coincidência o uso da árvore como insígnia do “Colegiado dos Filhos da Luz”


domingo, 10 de abril de 2011

O valor do trabalho

Atuo como psicólogo clínico numa unidade básica de saúde. A maior demanda corresponde a famílias com queixas de crianças com comportamentos inadequados nas escolas e nos próprios lares. Indisciplina. Falta de consciência quanto às conseqüências das próprias ações. Irresponsabilidade.

Quando chega a mim uma família com uma queixa deste tipo, relacionada a uma “criança-problema”, geralmente uso um roteiro de frases padronizadas: “criança com problema é sinônimo de família com problema”; “filho de peixe peixinho é”; “não trato crianças, trato famílias”; etc.

O que percebo é que os responsáveis pelas famílias brasileiras tendem a reproduzir com seus filhos o modelo de justiça distorcido que se cumpre em nosso país. Impunidade e nonsense.

Nas ultimas décadas, partimos de um modelo educacional pautado na inquestionável autoridade dos pais para um modelo de ausência de autoridade. A vida moderna, a busca por lucro e sucesso, a ansiedade generalizada, o estresse, a falta de convivência, a perda de valores. Hoje ninguém mais tem tempo para nada e as coisas importantes, os pequenos rituais, como comer bolinhos de chuva na casa da vovó, ficaram esquecidos.

As familias de hoje são conjuntos de estranhos sob o mesmo teto, que dividem TVs de plasma e vide-games, mas são incapazes de compartilhar sentimentos e sonhos.

Para confiar em uma pessoa, preciso conhecê-la. Para conhecê-la, preciso conviver com ela. Para conviver com alguém preciso de coisas mínimas como tempo, espaço, oportunidade, predisposição e sensibilidade.

De repente ouço notícias como essa:

Link direto "o GLobo"

Muitos pais percebem que, na corrida pela sobrevivência, acabam negligenciando emocionalmente suas crias. Temem perder o amor de seus filhos e tentam recompensá-los privando-os de qualquer tipo de frustração. Mas a vida é mestra em frustrar expectativas e causar desilusões. Assim surgem gigantes mimados inaptos para a vida e toda sociedade sofre pela falta de estruturação.

Fico me questionando se não é hora de voltarmos a alguns valores. Se não estamos sendo radicais demais ao eximir as crianças de todas suas responsabilidades. Entendo que amadurecer significa aprender a responder pelas conseqüências das próprias ações. Se uma criança cresce sem esse sentido, ela não amadurece. Fica eternamente dependente do senso de seus pais, e sem força para enfrentar a vida.

Por isso sou a favor de medidas como as que vem sendo adotadas pela promotoria de Campo Grande. Eu mesmo recomendo ás familias que atendo, em alguns casos, incumbir tarefas às crianças desde cedo, como por exemplo ensiná-las a lavar as próprias roupas. É muito importate que se desenvolva o senso de responsabilidade, que uma criança entenda que suas ações geram conseqüências e que ela aprenda a responder adequadamente a essas conseqüências.

Aos interessados indico o bíblia da família brasileira, o melhor livro que já encontrei sobre o assunto: “Quem Ama Educa”, do sábio e admirável Dr. Içami Tiba.

E para algumas famílias negligentes, só mesmo na base da avaiana de pau!

segunda-feira, 7 de março de 2011

Elogio à Loucura

Há cerca de 10 anos ainda existia em SP o Canal 21 (UHF) do grupo Bandeirantes. Depois passou a se chamar Play TV e não sei o que houve. Mas, naquele tempo, era uma opção à manjada programação da rede aberta. Foi lá que conheci o impagável Al Bandy, da série "Um amor de Familia" (Married with children).

E haviam as sessões de filmes que reprisavam o mesmo filme uma dezena de vezes (que nem a extinta "Sessão das Dez" do SBT).

Numa dessas sessões assisti a um interessantíssimo filme que narra a história de amizade entre o poeta americano Walt Whitman e um médico dirigente de uma instituição manicomial (que seria o Dr. Richard Maurice Bucke).

O filme já demosntrava trabalhos pioneiros de entendimento da loucura apontando alternativas para uma reforma psiquiátrica em pleno século XIX. Infelizmante não me lembro do nome dado ao filme no Brasil. Ele passava dublado e penso que seria um ótimo material de trabalho para professores de psicologia.

Procurei muito na rede e descobri que se trata na verdade de um telefilme (filmes feitos para TV, sem passagem pelos cinemas) originalmente chamado Beautiful Dreamers , de 1990, escrito e dirigido por
John Kent Harrison.

Pode-se conhecer mais pelo IMDB, inclusive assistir ao trailer:

http://www.imdb.com/video/screenplay/vi1958281497

Agora o mais interessante foi descobrir que, a partir da amizade com o poeta, o Dr. Richard elaborou um extenso trabalho intitulado Consciência Cósmica, que se acha em português somente em sebos.

Assim que eu achar e ler, disponibilizo aqui uma resenha.

Por hora, se alguém tiver alguma notícia sobre este filme, peço a gentileza de entrar em contato comigo. Seria muito bom revê-lo e disponibilizá-lo para todos.

terça-feira, 1 de março de 2011

AlejandrO Jo d'orowsky


Há cerca de dois anos vi de relance na TV Cultura uma entrevista com o então visitante no nosso país, Alejandro Jodorowsky.

Algum tempo depois assisti seu filme El Topo. Achei interessante, diferente. Então li Incal. Fiquei maravilhado. Comecei a pesquisar sobre o cara. Li Psicomagia e fiquei ainda mais interessado não só no método terapêutico apresentado no livro, como também pela própria figura e história de vida do moderno Xamã.

E agora estou lendo A Dança da Realidade.

Só para resumir um pouco de que se trata tudo isso, convém falar que Jodorowsky começou como titereteiro, criador e manipulador de fantoches, em sua terra natal, o Chile.

Foi para a França tornando-se mímico, coreógrafo e artista teatral. Integrou o movimento surrealista e, daí para o México, tornou-se também cineasta. Nos anos oitenta roterizou histórias em quadrinhos em parceria com o magnânimo Moebios.

É um criativo por expressão e um intuitivo por natureza. Dos seus estudos de xamanismo, curandeirismo, filosofia oriental, psicanálise e representação teatral, aliando aí suas experiências com sonhos lúcidos, criou um processo terapêutico que batizou de PSICOMAGIA.

O cara hoje tem cerca de oitenta anos, mantém um cabaré místico na França e roda por toda a Europa dando palestras.

De toda sua técnica, interessa-me a maneira como recomenda atos teatrais, atos “mágicos”, a seus consulentes, entendendo a metáfora como uma comunicação direta com o inconsciente. Para Jodorowsky, o mundo dito “real” não passa de um prolongamento do verdadeiro mundo: o mundo dos sonhos.

Sua técnica encontra forte embasamento na teoria analítica de Jung. Arquétipos, self, inconsciente coletivo e o caminho da individuação.

Infelizmente não consegui assistir a premiada peça teatral As três velhas, de autoria do mago. Torço para que a peça reestréie em breve em SP.

Eis alguns links para vídeos de uma entrevista, incluindo amostras práticas, do psicomago no you tube:

parte 1






http://www.youtube.com/watch?v=Hhb1f8QFm9Q



Está em espanhol, mas com atenção dá para entender fácil.

Disponibilizo também o link para um filme até perigoso para aqueles que pretendem se manter na mediocridade: A Montanha Sagrada.

A montanha sagrada - parte 1 no RapidShare

A montanha sagrada - parte 2 no RapidShare

Em um trecho do livro A Dança da Realidade ele fala um pouco das gravações deste filme, de uma passageira síndrome de messias e de como pretendia realmente alcançar a iluminação a partir de uma produção cinematográfica. Até acordar...


domingo, 27 de fevereiro de 2011

The Manhattan Brothers

Quem me conhece sabe que tenho um gosto no mínimo exótico para músicas.

Fui criado ao som de grupos orquestrais. Minha mãe deixava o rádio ligado o dia todo, todos os dias, sintonizado à extinta rádio Scalla FM, que durante algum tempo teve também o nome de Rádio ABC. Músicas orquestradas. Não eram músicas clássicas, mas músicas populares. Músicas de elevador. Glenn Miller, Duke Ellington, Benny Goodman, Ray Conniff, Orquestra Tabajara, e aquela incrível mulher cantando aquele pabadaaa pabadaapabadaapabadaba pabadabadaaaaa... toda vez que davam seis horas da tarde.

Naturalmente desenvolvi um gosto diferenciado, enquanto meu irmão mais velho e meus amigos ouviam as músicas da moda.

É claro que eu também era influenciado. Tive minha fase infantil, ao som de Balão Mágico. Aos seis anos também pedi de aniversário o disco Thriller, do Michael Jackson. Mas sempre houve uma preferência por algo diferente.

Ocorria o auge dos CDs quando eu tinha onze anos. Ganhei meu primeiro CD musical num amigo secreto. Um CD do Louis Armstrong.

Sempre preferi jazz, blues e música clássica. Mesmo sem conhecer muito. Aos dezoito anos eu já fuçava pelo classic rock e hard rock. Agreguei à música clássica outros clássicos como Pink Floyd, Beatles e Rolling Stones. Em 1996 fui ao Show do AC/DC no Pacaembu.

Em algum momento conheci as músicas New Age. E não sei como estendi-me para a world music.

Enfim, há uns cinco anos que eu procurava um cd de uma banda de jazz sul africana dos anos 50 chamada The Manhattan Brothers. Meu primeiro contato com essa banda foi há uns dez anos, vendo de relance um documentário no canal GNT da TV a cabo. Consegui baixar uma ou outra música pela magia da internet, mas nunca encontrei links para um álbum inteiro. Toda vez que algum conhecido ia para o estrangeiro eu fazia essa encomenda, sem sucesso.

http://www.youtube.com/watch?v=KVhdYx9uOIk

Recentemente meus professores de Taiko, em visita ao Japão, realizaram-me este sonho.

Agora, sinto-me no dever de disponibilizar na rede o resultado desta busca.

A diva Miriam Makeba teria começado como cruner dessa banda. A melodia, a mistura de vocais, o ritmo. Tudo faz parecer um som único que agrada muito aos meus ouvidos. Enfim, não tenho muito mais a falar. O som fala por si.

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Espero que os parcos leitores deste blog também possam curtir. Bom som a todos!