sábado, 27 de outubro de 2012

A mente e o cinema



A mente é um aparelho de criação de fantasias e de projeção dessas fantasias na tela da realidade.

Tecnicamente funciona como um cinematógrafo.

O cinematógrafo, nos primórdios da ciência e arte do cinema, tinha dupla função: registrar e imprimir por meio da luz as imagens no rolo de celulóide e projetar essas imagens depois de reveladas na tela de exibições.

Uma câmara escura com uma lente numa ponta (como o cristalino do olho humano) e um filme sensível a luz no extremo oposto (como a retina). O obturador e/ou diafragma faz o papel da pupila, determinando a quantidade e a velocidade com que a luz ambiente entra nessa câmara escura, fazendo registrar a imagem na retina.

Fato é que ao operar uma câmera, posso determinar que porção do ambiente ou da situação pretendo registrar. Posso por exemplo registrar a superfície da pele do corpo humano e, na hora de projetar essas imagens na tela, causar a ilusão de se tratar do solo acidentado de um planeta estranho.

A câmera registra, ou melhor, cria uma aparente realidade, mas muitas vezes sem a gestalt ou verdade da experiência plena. Muitas situações podem receber uma interpretação por serem registradas num plano fechado e terem esse entendimento totalmente reinterpretado se registradas em plano aberto.

Ao projetar essas imagens criadas, transmitimos uma impressão de realidade que tendemos a interpretar sem filtros de consciência ou bom senso. Como na experiência em que os irmãos Lumiere provocaram pânico em alguns expectadores ao projetarem na tela imagens de um trem em movimento. Somos influenciados pelas imagens, sintetizando neurotransmissores e reagindo a elas como se fossem experiências verdadeiras.

Quando chegamos ao mundo nossa mente tem um grande rolo sensível de filme virgem.

Durante nossas primeiras experiências somos influenciados a registrar imagens ao modo do que se costuma registrar em nosso meio. Nossos familiares, responsáveis, pais, professores ou ditadores culturais agem com nossas mentes como quem opera uma videocâmera, apontando o que e como registrar.

Quando não aprendemos a trocar o rolo de filme, tendemos a projetar apenas o que já temos registrado, como uma monótona sessão de cinema que repete sempre a mesma programação de dramas, poucas aventuras e comédias nonsenses.

Urge lembrar que a câmera é nossa e que podemos trocar os rolos. Melhor ainda, aposentar o cinematógrafo e adotar as câmeras digitais, que processam tudo de forma mais simples e fácil, permitindo descartar agilmente o material que não ficou a nosso gosto.

O papel do terapeuta muitas vezes é como o de um técnico que ajuda a pessoa a operar essa máquina de criação e projeção com mais bom senso, descartando as impressões arcaicas ou disfuncionais do meio e procurando conhecer os conteúdos mais originais do EU verdadeiro.

Teoricamente, ao seguir a verdade do próprio espírito, todas as coisas tendem a se encaixar, não há perda. Cada passo dado, cada acontecimento, seja aparentemente classificado de bom ou ruim, é apreciado em sua essência, funcionando para o aprimoramento da experiência de plenitude do ser.

Deixamos de gravar e projetar com os olhos fantasiosos do mundo para gravar e projetar com a essência do espírito. A mente deixa de te direcionar e você passa a direcionar a mente.



Referências:

- Hugo (2011)

- Poder alem da vida (Peaceful Worrior - 2006)

- Cinema e psicologia (por Cristiane Nova e Helen Copque)

domingo, 14 de outubro de 2012

Experimenta !


Saudações leitor!

Proponho hoje uma experiência. Mas para isso é preciso admitir a possibilidade de abalar todas tuas crenças, todas as bases sobre as quais erigiste tua realidade, tuas perspectivas, tua existência.

Dê-se 15 minutos para assistir a este vídeo de Gregg Braden:


A nossa mente não é nossa. É do mundo.

São idéias e crenças vibrando como ondas soltas não se sabe provindas de onde, mas que percorrem a atmosfera sem personalidade nem presença.
Entenda apenas que não nasceram em ti. Isso que comanda tua forma de ver, perceber e entender, não é teu.

Ao sintonizar as idéias e pensamentos e tomá-los para si, você os personifica e alimenta.
Nossos sentimentos é que lhes dão consistência.

Quando vazio de espírito, há carência. Acolhemos as idéias para nos preencher.

Alimento os pensamentos do mundo, que adoto como meus, como quem adota um filho perverso e lhe faz todas as vontades esperando que ele entenda como amor o que são só promessas e fantasias.

Não é teu. Não se engane.
Não se responsabilize pelo que não é teu.
Mas assuma a sua escolha de alimentar e se apropriar, pois isso tem conseqüências às quais arcar e isso a vida vai cobrar.

Você só responde por aquilo que alimenta, aquilo em que acredita e que sustenta. Aquilo em que se apóia na falsa presença de uma consistência que foi VOCÊ quem deu.

A consistência, a energia, a relevância, são nossos. Nenhuma idéia toma força sozinha.

Se uma idéia, uma crença, te faz mal, acorde! A força que as nutre é tua. Recuse-se a alimentá-las e elas definharão por inanição.

As idéias vêm e vão. Alimentar o que te impinge dor, o que te fere e te ofende é um erro. Um mal hábito aprendido pela convivência com os que nos rodeiam e crêm que educam incutindo medo e desprezo pelo que vem da essência do espírito.

O que cremos nosso se materializa. A gente alimenta, sente, firma, dá consistência. Assim formamos nossa realidade.

Mas a realidade não é a verdade.
A verdade, ainda não a conheço, mas sei que seu caminho é o da essência, não da aparência.

A realidade é um sonho que ganhou forma com nossa confiança, nossa crença.

A verdade está no espírito, como semente, latente, aguardando as condições adequadas para germinar, crescer, florescer e se manifestar.
Sua fragrância exala coerência, equilíbrio, presença, permanência.

Num universo de mutações, onde nada permanece, a verdade do espírito é a infinita permanência, a conexão com a força ancestral que habita nossa essência.

É preciso então, no seu tempo, trazer essa verdade para o plano da consciência. Implica crer no que não vemos, no que abala nossas crenças.

Num mundo de “ver para crer” a verdade do espírito parece a divina incoerência. O milagre inexplicável que, não sabemos como, mas quando permitimos, como uma criança marota, se apresenta.

O caminho da “contramão” aparentemente solitário. Mas não se engane pois, ao ouvir teu espírito, tua essência, o universo se manifesta por sinais e te preenche com imensa certeza que vibra no corpo: convicção, coerência.

Os medos, as ilusões e as expectativas, a espera de uma manifestação física de uma colheita que sequer foi plantada é que frustram nossa disposição para se entregar a essa divina experiência.

Parece difícil pois a única certeza é a da incerteza do que nosso espírito pode nos mostrar.

Se faz mal, se causa dor, acorda. Não é teu.
Mas acordar para isso é um exercício, uma mudança de hábito. Exige humildade e paciência.

Como disse minha mãe: “se você ama, vale a pena”.

Ore comigo agora:

“Ah verdade do meu espírito, se manifeste em mim!
Floresce do meu peito e me toma inteiro porque sou teu.
Mostra-me a verdade de quem sou EU.
Liberta-me das ilusões da mente e das crenças do mundo.
Descobre em mim a pureza e a esperteza que o medo perverteu.
Preencha-me!


Deixe se manifestar do teu espírito a tua oração que irá te ajudar a se firmar nessa conexão.

Experimenta!

- Referências complementares:

Kiriku e a Feiticeira” (França, 1998)



Os quatro compromissos” (Don Miguel Ruiz, editora Best Seller, 2010)

"Os buracos de minhoca e a auto-estima" (Renato Guenther, 2012)

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Óia o trem !



Ontem, quinta-feira 11 de outubro de 2012, por volta das 18 horas, peguei o trem da linha Esmeralda, sentido Osasco, a caminho do Instituto Stanislavsky a fim de ministrar minha aula de Psicologia Analítica aplicada a atuação metódica.

Contente por achar um lugar para sentar, ocupei-me de meu passatempo costumeiro em trens e ônibus: observar e devanear.

Notei uma moça, morena de cabelos lisos tingidos de um tom mais claro, rosto arredondado com bochechas protuberantes marcadas por cicatrizes de espinhas e cravos, feições de quem descende do nordeste, aparente fruto da migração às áreas periféricas desta gigantesca cidade. Até onde percebi, vestia roupas sóbrias de tons escuros, uma simples blusa preta, um jeans colado. Talvez estivesse a caminho da faculdade para um dia de prova depois do trabalho. Um prosaico dia de quem se aperfeiçoa no ofício de operário, de pequena engrenagem da máquina social onde cada um tem um papel na manutenção e continuidade do sistema de vida e de crenças desta sociedade dita civilizada.

Notei quando ela atendeu ao chamado de seu telefone celular. Pareceu rir como quem se percebe vítima de uma brincadeira macabra, “O que? Ah vai, pára!”. Em seguida seu sorriso ingênuo ganhou ares trêmulos, arqueando-se com as pontas para baixo. Suas mãos reproduziram os movimentos de um doente acometido do mal de Parkinson. Seus olhos inundaram-se com o brilho das águas salgadas de um mar de azares, “Pára, não pode ser! Ele não morreu, eu não acredito, eu não acredito. Não brinca comigo. Não! Não!”

A este ponto suas emoções se extravasaram em prantos rasgados, gritos de inconformismo e dor, mobilizando a atenção de todos que ocupavam o mesmo vagão. O silencio geral tomou o ar dos que se entretinham com as amenidades de mais um fim de tarde. Seus gritos e seu choro atravessavam a atmosfera como dardos letais embebidos em veneno, aplacando-nos o peito com palpitações de dor. Soluçava e berrava deixando caído e esquecido o aparelho celular que iniciou todo e estupor, “Não pode ser, não acredito que ele morreu! Mataram o meu namorado!”

O sujeito moreno de terno que dividia o banco, sentado a seu lado, totalmente sem graça, não sabia se a acudia ou se levantava para dar-lhe mais espaço. Outro, no banco da frente, com camisa do Corinthians e jaqueta amarela, tirou seus fones do ouvido transparecendo-se penalizado. Todos pareciam sem ação, porém, de algum modo, sensibilizados.

Uma vida chegava ao fim lembrando-nos todos do princípio da impermanência, de atos e fatos. Senti vontade de levantar-me e abraçá-la a fim de amenizar o choque daquele momento trágico. Queria dizer ao rapaz de terno, de movimentos patéticos que se anulava ao seu lado, para ampará-la, estendendo-lhe os braços. Mas ninguém naquele trem reagia. Apenas observavam, de algum modo tocados.

Em mim surgia a paz serena de um yogue. Algo me dizia “fique atento, observa”. Ao mesmo tempo um misto de pensamentos me inundava. A lembrança da recente briga com minha namorada. E se fosse eu o morto, será que ela se desesperava? Minha tristeza e frustração diante da possibilidade de nosso relacionamento chegar ao fim, recentemente resfriado pelas armadilhas da comunicação falha, das neuroses pessoais e da distância geográfica. O medo da morte, o medo da mudança, o medo do fim. E eu havia dito para ela que, naquele dia em que deixamos de nos falar, seu silencio foi como a morte e minha dor foi como o luto por algo que tanto queria mas que se esvaia diante da impotência nas adversidades. Mas não era eu o morto. Nem minha namorada. E talvez nossa relação reagisse, saísse mais forte e sadia da UTI em que estava internada.

Finalmente alguém quebrou a onda que paralisava o tempo no trem da menina desesperada. Um senhor veio lá do fim do vagão, estendo-lhe a mão e se oferecendo para acompanhá-la até a próxima parada. “Liga para sua família moça, vamos descer para você se acalmar”.

Seu gesto despertou a todos. O corintiano ofereceu seu aparelho celular para que a moça tentasse falar com algum conhecido que a ajudasse. Outra moça do outro lado do corredor, também estendeu seu aparelho oferecendo os créditos pré-pagos para aliviar um pouco a dor. Do banco de trás uma senhora loura e baixa acariciou-lhe os cabelos e também se prontificou a acompanhá-la. Os gritos, o choro e os berros ainda reverberavam fazendo os vidros tremerem. Juntos, o senhor simples de feições rústicas com sorriso solidário, e a senhora loira e baixa, apoiaram a moça amaldiçoada. Desceram com ela na estação seguinte onde de imediato, até onde pude ver, um funcionário da companhia de trens acolheu o grupo, levando a menina triste para uma das cadeiras vazias da parada.

Nos segundos seguintes o vagão lotou e o silencio funesto foi enterrado e esquecido, substituído por sons de conversas rasas e algumas estéreis risadas. Duas moças paradas a minha frente comentavam sobre os ingredientes que se fazem necessários para cozer uma paeja à moda espanhola.   

As engrenagens da cidade que nunca pára esmagavam a dor daquela triste e repentinamente viúva enamorada. Todos voltando às trivialidades de uma vida sem alma, como se nada tivesse acontecido.


O trem da vida anda. Mas e a gente? Quando é que acorda?



segunda-feira, 2 de julho de 2012




É possível ser senhor do próprio destino?

O ser humano tem por habito se gabar por sua capacidade de raciocinar, sobrepondo-se aos outros seres e crendo-se espécie dominante deste planeta.
Criamos ciências, economias, indústrias, religiões.
Mas somos realmente donos de nossas vidas?

Costumo dizer que somos frutos de pelo menos quatro forças principais: genética, cultura, experiências pessoais e acaso.
A combinação destas forças tende a moldar nossa visão de mundo e nossa maneira de ser.

Em nossa arrogância, nos cremos superiores, diferenciados dos outros seres, como se fossemos senhores de nosso destino.
Mas pense bem: quantas vezes você não se frustrou por um desejo não realizado?

Quantas vezes nos esforçamos e fazemos todo o visivelmente possível para alcançar um resultado positivo num aspecto qualquer de nossas vidas e o que encontramos é o amargo do fracasso?

Nossa ânsia de controle e poder sobre a vida é confrontada por detalhes como o tempo, o espaço, a tecnologia vigente, o senso comum.
Não controlamos o transito na hora do rush, não controlamos o clima na hora da chuva, não controlamos o medo na hora do assalto, não controlamos a impotência diante da morte.

Somos formigas na teia do infinito, seguindo trilhas em fila, de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Procurando viver ou sobreviver, coletando, plantando, produzindo, inventando e iludindo. Sonhamos com os bolsos cheios da grana, a mulher amada, a família perfeita. Filhos que darão continuidade à corrida pela produtividade. De casa para o trabalho e do trabalho para casa, seguindo trilhas em fila, como formigas na teia do infinito.


Comparado à idade do planeta, somos apenas a mais recente poeira, que em breve se esvairá com o vento das eras.
Poucos despertam sua consciência para algo mais substancial.

Percebo-nos muito mais marcados por determinismos do que poderíamos querer.

Recentemente, brindei-me com o seriado Força da Vida, veiculado algumas noites na TV Brasil. Trata-se duma produção da NHK (TV pública japonesa) que percorreu vários cantos do mundo registrando imagens da natureza com enredos justapostos pela teoria evolucionista.

O que descobri é que, com nossas pomposas articulações, criando arte, ciência ou cultura, não fazemos mais que a luta pela perpetuação da espécie, nada diferente de todas as outras espécies que co-habitam este mundo. Somos, talvez, mais engenhosos.

Impelidos pelo determinismo biológico disputamos recursos e melhores condições de sobrevivência com nossos adversários das diversas classes de seres, principalmente com os da nossa própria. Daí as guerras.

A maneira específica como criamos estratégias para existir, em grupos, transmitida pelas gerações, forma o que denominamos cultura.
Nascer brasileiro, com nossa história de país colonizado, já carentes de auto-estima e pedantes com nossa própria origem, é outro determinismo.

Somemos a maneira “subjetiva” de encarar as situações, nossas experiências pessoais, e o acaso.

É muita ilusão crer que podemos controlar todas essas influências, sobrepujá-las, com uma mente originalmente influenciada.

Aí chegamos ao ponto. Dificilmente somos puros em nossas condutas e escolhas. Agimos guiados por uma mente fruto das forças do mundo. Uma mente que tende, por impulso biológico de sobrevivência, a lutar para perpetuar sua programação, como o computador HAL 9000 do filme Uma odisséia no espaço.

Para evoluir com dignidade, para a posse real de alguma interferência genuína em nosso destino, é preciso confrontar essa programação mental, a fim de permitir emanações espontâneas do fundo de nosso ser, daquele recôndito que Jung chamou de Self.

... a base da imaginação é não ter imaginação, é conseguir romper com tudo que é imaginário. A partir daí, pode-se fazer tudo o que se quiser.
Se não rompermos com o imaginário, ficaremos sempre na situação de um parasita ...   
(Jodorowsky, Alejandro – Psicomagia – Pág. 263-264)

A maneira como penso, imagino ou percebo minhas experiências agora, não e neutra, mas impregnada de uma história micro e macro cultural, influenciada pela biologia. Qualquer coisa que eu imaginar com esta mente vai reproduzir aspectos dessa história, como um parasita. Nós não somos genuínos. Já nascemos prisioneiros.

Nem teus desejos são verdadeiramente teus. Eis a chave da propaganda.

Para libertar-se é preciso transcender a mente, superar os limites das crenças ou programações pessoais, sobrepujar as influências familiares e culturais.

Como disse Pessoa:


O essencial é saber ver, 
mas isso, triste de nós que trazemos a alma vestida, 
isso exige um estudo profundo, 
aprendizagem de desaprender. 

Eu prefiro despir-me do que aprendi, 
eu procuro esquecer-me do modo de lembrar 
que me ensinaram e raspar a tinta
 com que me pintaram os sentidos,

desembrulhar-me
e ser EU.



E só lembrando, a classe dominante em nosso planeta é a dos artrópodes... 


Links relacionados:

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Os Buracos de Minhoca e a Auto-Estima


Há muito que a ficção científica brinca com a possibilidade de viagens interestelares e intertemporais. Romances, contos e filmes vêm explorando a idéia de viajarmos para além dos limites da atmosfera terrestre quase com tanta intensidade quanto as viagens no tempo, para o passado, para o futuro ou para realidades alternativas.
No plano da nossa atual realidade, viagens no tempo e no espaço, ou para além do tempo e do espaço, são tema de vasta interpretação com diversas perspectivas. Pessoalmente, sei pouco a respeito, mas até onde minha ignorância permite, entendo que nossa tecnologia não suportaria hoje transcender muito mais que os limites de nossa Lua. Quanto às viagens no tempo, até teoricamente há divergências sem fim.
Solução viável para nos realocarmos, tanto em diferentes distritos do espaço quanto em planos alternativos do tempo, seriam os buracos de minhoca.
Teoricamente em algum momento nos será possível abrir portais para infinitos planos do espaço-tempo. Se isso é verdade, pode estar acontecendo em alguns dos infinitos planos exatamente agora. Mas precisaríamos de uma máquina para isso. Ou não?
Vem martelando-me a idéia, talvez não tão original, de que as viagens no espaço-tempo seriam possíveis de uma forma muito mais fácil, sem a necessidade de parafernálias tecnológicas, mas com a simples indução de um estado psicoemocional.
Com meus pacientes uso sempre a lembrança dos bolinhos de chuva que minha avó fazia em minha infância como exemplo de como podemos alterar a bioquímica de nosso cérebro. Basta lembrar dos deliciosos quitutes, preparados com esmero, banana e canela, que minha boca se enche de saliva. Até o aroma me vem às narinas. Meu corpo todo recebe o sinal de que vem coisa boa por aí. E tudo não passa de um estado psicoemocional induzido por uma lembrança.
De forma similar, sintomas materializam-se no corpo de pessoas em estado de sofrimento emocional, mesmo de forma inconsciente, sem aparente origem num desequilíbrio biológico. Doenças “criadas” pela mente; psicossomáticas.
Hoje sabemos também que estados induzidos por técnicas diversas, como a meditação por exemplo, criam sensações de bem estar e até melhoram a saúde física, sem necessidade de se apelar a drogas de qualquer tipo.
Através de prática na arte de disciplinar a mente podemos de fato criar um estado emocional diferenciado, alterar a maneira como percebemos os estímulos sensoriais e definir como podemos, ou queremos, ser afetados pela realidade.
Dalai Lama disse certa vez que existem cerca de sete bilhões de religiões no mundo, referindo-se à maneira como cada ser humano entende o processo de religar-se às forças do cosmos. Ora, cada ser tem uma maneira de ver o mundo que lhe é própria, herdada culturalmente e acrescida de suas percepções ao longo de suas experiências pessoais ou até pelo acaso. Cada ser humano vive em sua própria realidade.
Quando amadurecemos no entendimento de como percebemos a realidade, mudamos o modo como ela nos afeta. Mudamos a forma de ver o mundo. E, sem sair do lugar ou exercer qualquer ação externa, mudamos o próprio mundo. Mudamos a realidade.
Num mesmo mundo habitam diversos seres e, num mesmo ser habitam diversos mundos.
Assim, porque não seria possível transcender as aparentes barreiras físicas? Através da imaginação podemos habitar mundos longínquos, diminutos ou gigantescos, de inúmeras formas, consistências e aparências, em qualquer momento da linha do tempo, em qualquer localidade do espaço, entre os diversos planos prováveis ou improváveis, sem que para isso seja necessário mover um músculo.
Com o estímulo certo, provocamos toda uma alteração psicoemocional referente ao local ou situação do espaço-tempo que pretendemos alcançar. E com o esforço adequado da vontade e do poder de crença poderemos, quem sabe, de fato materializar esse novo plano de realidade.
Os buracos de minhoca seriam reais, criados com o poder de nossa mente. E os mapas estelares não seriam mais que representações das nossas redes neuronais.
A aparente brincadeira de crianças em As crônicas de Nárnia contrasta décadas de aventura num reino distante com apenas alguns momentos de confusão dentro de um antigo armário.
O filme Contato fala da polemica da possibilidade de contatos extraterrestre, não com espaçonaves, mas com uma gigante máquina que, aparentemente só gastou dinheiro público. Não quero estragar o final para aqueles que ainda não viram o filme, mas 18 minutos de estática numa fita de VHS são bastante reveladores. Seria só um estado alterado de consciência?
No filme Em algum lugar do passado a personagem do saudoso Christopher Reeve faz uma viagem no tempo, não com alguma máquina estranha nem com um delorean, mas através de hipnose auto-induzida.

Warren Ellis brinca com essas possibilidades na HQ Azul Profundo. Escreve baseado em suas experiências com drogas e nos registros com uma droga em especial, a DMT, cujos relatos de experimentação sugerem uma espécie de viagem no espaço-tempo comum a maioria dos usuários.
Assim como uma droga pode estimular uma área específica da mente, revelando experiências específicas, poderíamos chegar a estes estados com estímulos naturais. Quem sabe C. S. Lewis, J. R. R. Tolkien, Julio Verne e outros não foram viajantes do espaço-tempo que deixaram em suas obras pistas para novos aventureiros?
Talvez uma viagem espaço-temporal não nos seja possível agora, mas a mudança da forma como escolhemos ser afetados pela “realidade” está muito mais próxima do que imaginamos.
Fico comparando a dificuldade que encontro para deixar velhos e improdutivos hábitos, melhorar meu aproveitamento nas experiências do dia-a-dia, vencer os empecilhos pessoais que considero como entraves para uma vida plena.
Vejo as dificuldades que meus pacientes relatam em suas aventuras cotidianas, os sofrimentos às vezes inconscientes e inevitáveis.
Com meus pacientes esquizofrênicos aprendi o quanto a mente pode ser inquisidora, capaz de limitar nossas possibilidades de usufruir a vida.
Percebo que criamos em nossa mente uma tendência para valorizar o negativo, em suas mais diversas formas e expressões. Lembro de minha infância e sou capaz de narrar uns cem números de experiências positivas, mas é a meia dúzia de situações negativas que fico repetindo e rememorando à exaustão.
Uma tendência sócio-cultural, aprendida, que programa nosso cérebro para nos auto-caluniar.
Essa tendência influi na criação do mundo que cremos viver.
Para criarmos um mundo melhor é preciso exercitar e desenvolver a habilidade de reconhecer o que temos e vivemos de positivo, até naquilo que parecia ser negativo.
Para expressar melhor o que quero dizer prefiro usar as palavras de José Luiz Tejon:




(Não consegui adicionar a continuidade da entrevista, mas vejam aqui.)

Aprendemos a nos ver na infância, a princípio, projetando a partir de nós mesmos a imagem que nossos adultos responsáveis e parceiros de convivência lançaram sobre nós. Experiências de auto-imagem positiva na infância tendem a moldar auto-estima sadia na vida adulta. Mas nem todos têm referência de adultos responsáveis, sábios ou ternos.
Aí resta se auto-referenciar, a partir da busca pessoal de uma nova auto-imagem, positiva.
Mudo a maneira de me ver ao reconhecer o que tenho de bom. Mudo minhas sensações e impressões para comigo mesmo. Mudo a maneira que escolho afetar-me pela “realidade”. Mudo minha própria realidade. E de repente sou capaz de alterar até minha experiência de espaço-tempo materializando de fato uma realidade mais promissora e aprazível.
Começo dizendo “sim” para mim. Até criar o buraco de minhoca que me leve a uma nova dimensão de mim mesmo.
Por que não?!?
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