sábado, 27 de outubro de 2012

A mente e o cinema



A mente é um aparelho de criação de fantasias e de projeção dessas fantasias na tela da realidade.

Tecnicamente funciona como um cinematógrafo.

O cinematógrafo, nos primórdios da ciência e arte do cinema, tinha dupla função: registrar e imprimir por meio da luz as imagens no rolo de celulóide e projetar essas imagens depois de reveladas na tela de exibições.

Uma câmara escura com uma lente numa ponta (como o cristalino do olho humano) e um filme sensível a luz no extremo oposto (como a retina). O obturador e/ou diafragma faz o papel da pupila, determinando a quantidade e a velocidade com que a luz ambiente entra nessa câmara escura, fazendo registrar a imagem na retina.

Fato é que ao operar uma câmera, posso determinar que porção do ambiente ou da situação pretendo registrar. Posso por exemplo registrar a superfície da pele do corpo humano e, na hora de projetar essas imagens na tela, causar a ilusão de se tratar do solo acidentado de um planeta estranho.

A câmera registra, ou melhor, cria uma aparente realidade, mas muitas vezes sem a gestalt ou verdade da experiência plena. Muitas situações podem receber uma interpretação por serem registradas num plano fechado e terem esse entendimento totalmente reinterpretado se registradas em plano aberto.

Ao projetar essas imagens criadas, transmitimos uma impressão de realidade que tendemos a interpretar sem filtros de consciência ou bom senso. Como na experiência em que os irmãos Lumiere provocaram pânico em alguns expectadores ao projetarem na tela imagens de um trem em movimento. Somos influenciados pelas imagens, sintetizando neurotransmissores e reagindo a elas como se fossem experiências verdadeiras.

Quando chegamos ao mundo nossa mente tem um grande rolo sensível de filme virgem.

Durante nossas primeiras experiências somos influenciados a registrar imagens ao modo do que se costuma registrar em nosso meio. Nossos familiares, responsáveis, pais, professores ou ditadores culturais agem com nossas mentes como quem opera uma videocâmera, apontando o que e como registrar.

Quando não aprendemos a trocar o rolo de filme, tendemos a projetar apenas o que já temos registrado, como uma monótona sessão de cinema que repete sempre a mesma programação de dramas, poucas aventuras e comédias nonsenses.

Urge lembrar que a câmera é nossa e que podemos trocar os rolos. Melhor ainda, aposentar o cinematógrafo e adotar as câmeras digitais, que processam tudo de forma mais simples e fácil, permitindo descartar agilmente o material que não ficou a nosso gosto.

O papel do terapeuta muitas vezes é como o de um técnico que ajuda a pessoa a operar essa máquina de criação e projeção com mais bom senso, descartando as impressões arcaicas ou disfuncionais do meio e procurando conhecer os conteúdos mais originais do EU verdadeiro.

Teoricamente, ao seguir a verdade do próprio espírito, todas as coisas tendem a se encaixar, não há perda. Cada passo dado, cada acontecimento, seja aparentemente classificado de bom ou ruim, é apreciado em sua essência, funcionando para o aprimoramento da experiência de plenitude do ser.

Deixamos de gravar e projetar com os olhos fantasiosos do mundo para gravar e projetar com a essência do espírito. A mente deixa de te direcionar e você passa a direcionar a mente.



Referências:

- Hugo (2011)

- Poder alem da vida (Peaceful Worrior - 2006)

- Cinema e psicologia (por Cristiane Nova e Helen Copque)