sábado, 23 de outubro de 2010

Apesar de muito interessado na espiritualidade e em assuntos místicos e mitológicos, não sou um cara religioso. Passo longe das religiões e seus dogmas despóticos.

No entanto, nesta ultima segunda-feira, indo pro trabalho sob um céu nublado e escuro, fui tomado de uma inspiração quase evangélica de tão divina.

Afinal, também sou poetinha! Com vocês, em primeira mão, um breve poema:

Alma Perdida

Num dia chuvoso vi,

no céu nebuloso, uma luz cintilar.

Um anjo tristonho desceu.

Suas asas moveu pairando no ar.

Mirando-me os olhos ao fundo

falou-me do mundo em tom devagar.

Chorando, contou-me suas mágoas.

Encharcou-se nas águas de origem polar.

Confessou ressentir-se dos homens,

mulheres e jovens de todo lugar.

Sentia sua alma perdida,

de mal com a vida, vendo o fim triunfar.

Humilde, falei-lhe do divino.

Cantei-lhe um hino que aprendi no meu lar.

Lembrei-o da vontade infalível,

Do ser invencível que nos deu o dom de errar,

na certa mantendo a esperança

de que à sua semelhança aprendamos a perdoar.

Logo, o sábio não teme o fim,

pois sabe que assim pode recomeçar.

O pranto do amigo alado

foi posto de lado com seu soluçar.

Sorrindo o anjo sumiu

e o céu se abriu num conluio estelar.

Cantando consolei a um anjo

tocando meu banjo sob a luz do luar.

Senti em sua presença invisível

que tudo é possível, basta acreditar.

(Renato Guenther - 18/10/2010)

domingo, 17 de outubro de 2010



Fui convidado para uma nova palestra sobre Cinema e Psicologia na Universidade São Francisco de Itatiba.

Fui muito bem recepcionado pela Profa. Lucicleide, o gentil Fernando e o pequeno Caio.

O público dessa vez foi dos corajosos alunos do décimo semestre do curso noturno de psicologia. Corajosamente lotaram a sala em plena manhã dum sábado ensolarado (16/10/2010).


Mais uma vez tive a oportunidade de divulgar a idéia de uma comunhão entre o cinema e a psicologia que supera a relação atual, proporcionando o melhor das duas práticas em prol da qualidade de vida dos seres humanos.

O próximo passo é ... bom, não sei qual é o próximo passo, mas gosto de falar em público e de divulgar meu trabalho. Sendo assim, posso sempre aceitar novos convites e vamos ver onde isso irá nos levar né!!!

Eita coisa boa !!!

Recentemente estive nas gravações de um dos melhores programas da TV brasileira: “Sr. Brasil”.

O programa vem sendo gravado no auditório do SESC Pompéia. Foram cerca de 3hs de show com o melhor da musica que não se ouve nas rádios.

O Boldrin levando bronca da produtora

Não sei quando vai ao ar, mas assim que souber publico por aqui. Infelizmente não consegui tirar uma foto decente. Só permitiam tirar fotos nos intervalos e o Boldrin ficava o tempo todo de costas pra gente, conversando com os convidados. Mas foi uma experiência muito vivificante. Aos interessados, basta ligar para a produção do programa e agendar via e-mail ou comprar ingressos diretamente na bilheteria do SESC.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Vamos Flutuar!!

Hoje tive um programa família com meus pais. Fomos ao SP Market para uma matinê do filme Nosso Lar. Trata-se de uma superprodução nacional, beatificada pela Federação Espírita Brasileira e desvalida pela nossa crítica cinematográfica.

Li alguns artigos que alardeiam o filme como uma propaganda religiosa, depreciando suas qualidades cênicas e artísticas.

Confesso que tenho por hábito desconfiar das produções globais. Tudo que vem do monopólio das telecomunicações deve ser visto com maior critério, desconfiança e precaução.

No entanto, tiro o chapéu para esta produção. Vejo o cobre investido de maneira louvável e consciente.

No começo, com aquelas imagens do umbral, aqueles seres trevosos, e depois, com aquele jeito de falar dos mentores da colônia iluminada, a gente até chega a pensar que Nosso Lar é um filme doutrinário, espírita, maniqueísta. Dá-nos impressão de uma cartilha pomposa, cara e moralista. Mas depois, a magia cinematográfica acontece e a gente entra na história. O que se vê não é um filme espírita, mas um filme que fala do espírito humano, da derrocada da arrogância e da evolução emocional em prol de um sentido maior, cosmopolita e intimista ao mesmo tempo. O que vemos é um homem questionando seus valores e experimentamos com ele uma deferência à nobreza que se oculta em nosso íntimo.

Atuações e efeitos se aliam proporcionando uma experiência de elevação, independente de credo ou religião. Um filme que abre um portal de conexão com o que há de melhor em nós mesmos.

Atentem para a empregada negra da família do médico André Luiz. A extraordinária atriz Chica Xavier tem uma única fala, tão carregada de emoção e ternura que nos surpreende. Esse efeito só se consegue com o domínio da arte da atuação, digno da grande dama que a representa.

Repito. Nosso Lar é menos um filme espírita e mais um filme que fala do espírito humano, da essência que nos habita. Assistam, e permitam-se esta experiência.

sábado, 28 de agosto de 2010

Parla!!!


Aí vão algumas imagens da palestra na USF – Itatiba.


Fui muito bem recebido pela equipe docente e pela comissão organizadora. Fui tratado qual um rei. Quanto aos alunos, apesar da aparente timidez, acredito que algumas sementes foram plantadas. Se bem cuidadas, com certeza darão frutos.


Foi uma grande alegria partilhar do meu trabalho. É um tipo de reconhecimento que me faz perceber que estou trilhando o caminho certo, o que mais me alegra.

Mais uma vez agradeço imensamente a oportunidade. Pra quem perdeu, aguarde as próximas!!

terça-feira, 24 de agosto de 2010

O verdadeiro Avatar

Pra quem não sabe, recentemente estreiou “O último mestre do ar” (The last Airbender), título adotado para a adaptação da série animada originalmente batizada de Avatar: the last airbender.

Fiz questão de assisti-lo na companhia de um amigo que não tinha conhecimento da série (o Ponêis), exatamente para testar a eficiência da adaptação.
Meu amigo gostou muito e afirma ter entendido bem a estória, enaltecendo a boa mistura de filosofia oriental, artes marciais e fantasia.

Li a crítica de Luiz Zanin Oricchio no Estadão de sexta passada. Hoje, li a crítica, pouco mais favorável, do Luiz Carlos Merten. Ambos carecem de maior contextualização para seus textos.

Há muito que abordar sobre o filme mas vamos começar falando de seu diretor: M. Night Shyamalan. O cara é bom e não precisa fazer mais filmes para provar isso. Ficou conhecido do grande público com O Sexto Sentido, estourou na bilheteria e criou grande expectativa diante da crítica. A partir de então todos seus filmes seguintes foram taxados de pretensiosos e menores pela maioria dos críticos.
Eu sou suspeito para falar. Gosto muito do trabalho do cara. Tenho predileção pelos primeiros. O que mais venero é Corpo Fechado. Percebo alguns equívocos em suas produções e me parece que ele erra mais quando tenta corresponder às expectativas do público e da crítica. Fim dos tempos (The happening) é seu maior equívoco.

Night costuma acumular funções de roteirista, diretor e produtor. Em termos cinematográficos isso tende a garantir maior independência e autonomia para o autor.

Em The Last Airbender percebo alguns equívocos. Começando pelo excesso de narração, comumente usado para aglutinar conteúdo quando falta tempo. George Lucas já mostrou, nas suas mais recentes produções, que, se não for bem usado, o excesso de texto só complica a vida do expectador. Na série animada a primeira parte do compendio foi dividida em cerca de 20 episódios. Entendo que é difícil aglutinar tudo isso em menos de duas horas, mas trata-se de uma adaptação. Por que tentar ser literal ? A insistência em explicar certas cenas omitidas ao público através da narração da personagem Katara pode acabar por deixar-nos meio perdidos ou entediados. Outra frustração é o excesso de cor. Talvez na tentativa de adequar a produção para o público infantil Night deixou de lado a escuridão e os tons sombrios que deixariam a estória muito mais intrigante. Durante toda a primeira parte da série animada, o senhor do fogo é exibido entre a penumbra e uma cortina de chamas, dando-lhe aspecto muito mais assustador. No filme ele é exibido de cara limpa, sem mistério.

Apesar de conseguir manter alguns elementos fortes da série e de fazer bom uso dos recursos gráficos (o Apa ficou super fofo) o filme perde em elementos que costumavam ser melhor explorados pelo diretor em outras produções, como a fotografia e a narrativa. Night já trabalhou explorando formidavelmente seus atores mirins. Em The Last Airbender são bons, mas nem tanto. Parece-me que a atriz Nicola Peltz foi uma má escolha para uma personagem forte como Katara. Já protagonista e antagonista (Aang e Zuko) me transmitiram maior domínio na expressão da angustia de seus personagens.

A série animada foi dividida em três “livros”: Agua, Terra e Fogo. Apesar dos protestos dos fãs nunca existiu a 4ª temporada: Ar.
Assim, trata-se de uma trilogia. Até onde eu sabia, os 3 episódios forma rodados em concomitância. Gostaria que o diretor trata-se a série com mais maturidade, mas temo que isso não vá acontecer.

Falando da série animada, foi o que de melhor surgiu na TV nos últimos tempos. Apesar dos elementos orientais, não é um anime. É uma produção norte-americana muito bem conduzida, recheada de elementos fantásticos, filosofia, ação e bom humor. Um desenho de conteúdo que não trata o expectador infantil como imaturo. É uma série que amo.

Sinto pela fraca adaptação e posso afirmar que é minha primeira decepção com um diretor que também adoro.
Mas tem sido essa a sina de Hollywood: pasteurizar conteúdos e tornar superficial o que era profundo. Uma pena que M. Night Shyamalan tenha também por aí se enveredado.

Para quem que saber mais sobre o verdadeiro Avatar, indico o site Mundo Avatar.

Para dar uma noção da profundidade da série, vejam este trecho do livro 2, Terra:


E por hora, que queime no inferno o cara que teve a idéia de refilmar Karatê Kid. Senhor Miage forever!!!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Semana da Psicologia


É com muito prazer que anuncio minha participação como palestrante na Semana da Psicologia da Universidade São Francisco - Campus Itatiba.

Estarei lá nesta sexta-feira, 27 de agosto, as 8h00, apresentando o tema "Contribuições da Psicologia para a produção cinematográfica".

Maiores detalhes no site da USF.

Até lá!

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Sonhando acordado!!

Assisti A Origem (The Inception - 2010).



Para psicólogos e estudiosos da mente e do inconsciente, trata-se de um prato cheio.
O acesso às camadas do subconsciente, os atos falhos e auto-sabotagens, os sonhos lúcidos. É um filmaço.


O assunto em si não é novidade. Gosto muito de “A morte nos sonhos(Dreamscape)”, estrelado por Dennis Quaid em 1984, que aborda exatamente o sonho lúcido e o sonho compartilhado, com a presença dum assustador homem-cobra.

Podemos apreciar o tema, de maneira mais documental, em Waking Life, de Richard Linklater, um filme tão peculiar que funciona quase como uma pancada na cabeça.
Tem até um filminho bem mais bobo, dirigido por Jake Paltrow, O Sonho Comanda a Vida(The Good Night), que também trata desse topico, levianamente.

O sonho ainda é um mistério para a ciência. Falando de forma simplista, seriam imagens do inconsciente geralmente associadas a situações do nosso cotidiano que, durante o sono, povoam nossa mente.
O sonho teria uma função organizadora e fundamental para o bom funcionamento de nossos pensamentos.
Imagine uma grande biblioteca. Durante o dia, varias pessoas vêm e pesquisam os mais variados assuntos. Solicitam diversos livros. Lêem dramas, aventuras, romances. Ao final do expediente cabe a bibliotecária organizar o recinto, alocar cada volume em sua devida estante, a fim de que, no dia seguinte, as pesquisas e consultas possam voltar a ocorrer normalmente.
Até certo ponto os sonhos funcionariam como a bibliotecária do nosso cérebro. Mas movidos por forças, a priori, incontroláveis e inconscientes.
Às vezes, espontaneamente ou a partir de técnicas, podemos interferir no andamento dos sonhos e então conduzi-los de forma consciente, produzindo sensações e experiências de acordo com nossa vontade. Isso seria o sonho lúcido.

O sonho lúcido seria a porta para outros fenômenos como premunições, retrocognições, clarividências e até EFCs.
Experiências fora do corpo (OBEs – Out of Body Experiences), também conhecidas como viagens astrais ou desdobramentos, são fenômenos controversos do ponto de vista da ciência. Resumidamente, existem duas linhas de estudo. Uma aponta tudo como fenômenos da mente, alucinações visuais e tácteis que dão a impressão de flutuação, visualização do próprio corpo sobre a cama, etc. Outra linha aponta a real possibilidade de separação entre o ego,centro de discernimento do nosso ser, e o complexo corpo-mente. Ou seja, nosso “Eu” transcende nossa mente.
Existe muita coisa a se falar sobre isso. Quem tiver interesse, indico o IIPC. Mas recomendo sempre ressalvas quanto a seus métodos. Afinal, fundamentalismos geram anacronismos.

Enfim, tudo pra falar que o Christopher Nolan acertou de novo. O assunto é interessantíssimo, as cenas de violência estão na medida, a trama é super bem conduzida e todo o elenco trabalha muitíssimo bem. É o tipo de filme que faz você sair do cinema com a sensação de que cresceu um pouco durante aquelas duas horas.

E com vocês, um clipe que eu adoro:



When you close your eyes, the adventure begins!!!
Bienal Macabra

Sexta-feira 13. Agosto, o mês do cachorro louco.

Nada melhor do que encontrar entusiastas do universo vampírico e seres afins.
Estive na Bienal do Livro, contemplei uma agradável palestra com a nata da literatura das sombras no Brasil: Martha Argel, Giulia Moon e André Vianco.


De quebra,ainda consegui uns autógrafos.









O mais importante destes encontros é o efeito estimulante em novos escritores. Vários jovens relataram em suas perguntas e testemunhos a gana de escrever gerada a partir do contato com a obra dos entrevistados.

Interessante que no Caderno 2 do Estadão de 15 de agosto último figurou uma matéria assinada por Lygia Fagundes Telles descrevendo a preponderância de seu encontro com nada menos que Monteiro Lobato, quando esta ainda duvidava das próprias aptidões literárias.
Tais encontros podem ser tão instigantes quanto a benção das musas.

Mas voltando à sexta-feira das bestas, nada poderia ser mais estimulante para um aspirante a cineasta do que encontrar um dos ícones do cinema brasileiro: José Mojica Marins, o Zé do Caixão.
No evento no stund do SESC, Mojica não negou que para fazer cinema no Brasil é realmente preciso apelar para as forças sobrenaturais.



A Bienal do Livro é um evento comercial de cultura. Estruturalmente, pouca coisa muda a cada edição. Mas é na possibilidade desses encontros que reinam seus méritos.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010


Faz tempo que não publico nada novo por aqui. Sou assim, um homem de fases. Escrevo, desenho, pinto e danço quando inspirado. Às vezes fico meses só assistindo TV e balançando na minha rede, quase em coma, encubando. De repente, raios de criação fluem pelas têmporas e me consumo de ansiedade na gana de concretizar de alguma forma tudo que me habita.

Enfim, não sei se alguém ainda visita esse blog ou se pára realmente pra ler algo, mas se existe algum público, é também para vocês que este espaço existe,respeitando, principalmente, a minha necessidade de expressão.

Neste mês de agosto entrei de férias. Comprei um charuto cubano, um pisco chileno e uma playboy da Cléo Pires, achando que poderia degustar tudo isso no sossego de minha rede, mas tem tanta coisa acontecendo...

Nos posts à seguir vocês verão minha rápida passagem pela FLIP em Paraty, reflexões cinematográficas geradas por um liquidificador falante e um tempo para deleite junto da dama do folclore nacional.

Este mês ainda promete pois tem a Bienal do Livro, show do Dominguinhos, teatro, cinema, palestra e muita curtição pra rolar.

Não estranhem se os posts pararem novamente por período indeterminado. Não sou urso, mas a qualquer momento posso entrar em hibernação.

Aproveitem e até breve
A velha dama e um tempo quase perdido



Há algum tempo que planejo assistir às gravações dos dois melhores programas da TV Cultura (depois do “Provocações”): Senhor Brasil e Viola minha viola.

Entrei em contato com a produção da TV e fiquei a par dos esquemas de caravana e etc. O Viola é gravado às 4as feiras. É preciso fazer inscrição por telefone ou email com pelo menos duas semanas de antecedência. Para Caravanas é necessário até um mês de antecedência no agendamento.
Uma vez inscrito e tudo acertado, a espera é de mais de uma hora para o inicio das gravações. Justificado por se tratarem de exibições musicais sem playback. É preciso ensaiar e passar o som várias vezes.

Fui contemplado nesta 4ª feira, 11/08/2010, com as gravações do programa a ser exibido provavelmente no dia 29/08.

No começo até assusta a quantidade de velhinhos que vão ás gravações, alguns assíduos. Primeiro entram as caravanas, depois os independentes chamados numero a numero como num bingo.

A grande dama, madrinha de inúmeros músicos e cantores, principal difusora do folclore nacional, já ostentando o peso da idade, chega com pés inchados e dificuldades para caminhar. Porém, sempre bela e vaidosa.
Fomos agraciados com a Banda de Pífanos de Caruaru e a dupla Zico e Zeca. Não bastasse, ainda teve o Caçulinha e um emocionante número final em que todas as marcas do tempo sumiram da amada Inezita quando ela soltou a voz e a alma ecoando o cântico dos caipiras.


Lindo! Lindo!

Mas precisamos fazer algo a respeito. O Público desse programa é de idosos em sua maioria. A Inezita tá com 85 anos. Temo que, com sua partida, desapareça também parte de nossa cultura. Por isso devemos apresentar ao público, desde cedo, esta riqueza. Proponho levarmos as crianças e os jovens para aquela platéia para que, junto com aquela alegre gente velha, o intercambio aconteça e a cultura caipira não feneça.
Apelo à TV Cultura e às escolas que, desde o maternal, proporcionem esse reencontro das raízes brasileiras. Vamos levar as escolas para o Viola! Ói que bacana!!

Viola Minha Viola é um programa para qualquer idade.
Cinema vitaminado

Há muito tempo no cinema nacional não acontecia algo tão bom quanto “Reflexões de um liquidificador”. O roteiro de José Antônio de Souza não perde em nada para as obras de Charlie Kaufman.

Nada de bandido, nada de favela. Não que isso não seja importante, até como denuncia para o nosso cinema. Mas o Brasil não é só isso. A principal característica do povo brasileiro é a criatividade. E isso, esse filme resgata muito bem.
Tanto na produção em si quanto na sua estratégia de lançamento, “Reflexões” faz história. Pra quem não sabe, o filme está passando só no Espaço Unibanco. Toda exibição é precedida de um curta-metregem premiado. E nas sessões das 20h e 22h ainda há show de stund up comedi.

Fui na terça, 10/08/2010. Cheguei uns minutinhos mais cedo. Entrei e fiquei beliscando um salgadinho, pensando exatamente em estratégias de lançamento, em como trazer o público para a frente das produções nacionais. Rememorava a estratégia do filme da Bruna Lombardi, “O signo da cidade”, que foi lançado a R$1,00 no dia 25 de janeiro de 2008, como um presente para São Paulo. Quando de repente a Bruna e o Riccelli passaram na minha frente e sentaram ao meu lado, que nem um casal de jovens namorados. Me deu um puta dum arrepio que até suei. Depois da sessão até tentei falar com eles, mas lá tava cheio de famosos e eu não quis dar uma de repórter do TV Fama.

Mas falando do “Liquidificador”, tenho uma teoria. O eletrodoméstico representa a própria humanidade, adormecida na execução de suas funções, trabalhando como cabe ao objeto que cada um é. Até o momento que, por uma razão qualquer, criamos consciência. O ser desperta e deixa de ser coisa para ser “ser”. Como uma criança vindoura ao mundo, tudo é novidade e só importa degustar a experiência de cada momento, usando todo o livre arbítrio para jamais voltar à manipulação de outrem. Tem muito de taoísmo nessa história. Tem muito de Matrix nessa história. E tem muita poesia e gosto pela vida. Mas aparentemente é um filme de humor negro e moooorte.

Tive que parabenizar a Ana Lucia Torre por seu excelente trabalho. Quase que dô um abração nela, no meio daquele clima de reencontro de colegas de clube que ficou o saguão do Espaço Unibanco naquela noite.


Parabéns a Equipe.

Aos meus poucos leitores, um aviso: assistam em quanto é tempo. Diversão garantida!!
Robert Crumb passou pela FLIP.



Não sou lá grande conhecedor de sua arte underground. Li Fritz, the Cat. Li Blues. Baixei e curti de verdade as músicas do Cheap Suit Serenaders. Sou fã de seu jeito e arte únicos. Jeito e arte de quem não está ligando muito para os outros e vive no seu próprio universo, da própria maneira. Ganha a vida e faz sucesso exatamente por isso.

Desde maio que eu planejava participar de sua mesa na FLIP. As datas da feira coincidiriam com o início das minhas férias. Cogitei comprar um pacote de pernoites em uma pousada mas desde maio os preços e as reservas estavam inflacionados. Além disso, a venda de ingressos para as mesas literárias foi monopolizada pela ticketmaster (odeio essa empresa, mas somos reféns dela no que concerne a shows e eventos) e os ingressos para a mesa de Crumb acabaram menos de duas horas depois do inicio das vendas (assim disse a atendente).
Comprei um ingresso a R$10,00 para assisti-lo de um telão.



Crumb foi o chamariz, mas não o motivo principal de minha passagem por Paraty. Fiz um bate e volta de ônibus pela Reunidas. Saí de Sampa no sábado (07/08/2010) às 8h. Cheguei a Paraty por volta das 14h. Em frente à rodoviária avistei um ponto de informações para turistas e cheguei ao local da FLIP, a pé, facilmente.

Não foi minha primeira vez na cidade. Há 25 anos fui com minha família para Angra dos Reis e passamos alguns momentos em Paraty. Do que mais me lembrava eram as casas de arquitetura colonial, as ruas de pedra, as bonecas artesanais feitas de corda de sisal (que a cultura local já perdeu) e as jacas que caiam dos pés de maduras.
Desta vez, foi maravilhoso e estranho ao mesmo tempo. Maravilhoso ver a cultura transbordando por todos os lados. Crianças, jovens, velhos e adultos na festa do saber, celebrando cultura. Isso gera um ambiente engrandecedor. Porém, ele estava lá, travestido de boas intenções. Ele: o comércio. Muito de tudo era apenas marketing e oportunidade de giro do capital. O bestial capitalismo movendo tudo e todos. A gana do consumismo desenfreado. Mas já que o fundamento da sociedade atual é o consumo, que consumamos cultura.

Perverteram o Realejo em prol da venda de cerveja



Passeei, comi um peixe com camarão e suco de pitanga, encontrei pessoas interessantes. Conheci uma figura tão curiosa quanto o próprio Crumb: o Homem-Borboleta, que até me deu aulas de história.

Finalmente, por volta de 19h, a tão esperada presença de Robert Crumb. Ver uma entrevista desse cara no Brasil é algo tão inusitado quanto testemunhar o cometa Halley. O homem é quase um eremita, auto-exilado numa cidadela francesa. Não dava para perder.
Quem gosta, provavelmente já leu a respeito nos jornais, mas meu relato e livre de mazelas, nu e cru. Erraram feio ao escalar o Sérgio Dávila para mediar a mesa. Respeito sua carreira profissional, mas o cara é correspondente de guerra, Pô! Que que isso tem a ver com quadrinhos?!? Magrão, de Barba, sandálias... será que suspeitavam que o Crumb era o Bin Laden disfarçado?? Porra, com tanta coisa interessante pra perguntar foram mandar aquela velha história de “o que você acha da mulher brasileira?”. Por isso que todo estrangeiro que chega aqui acha que toda brasileira é puta!
Robert Crumb foi o pai dos quadrinhos underground. Mas hoje ele é cult-geak-pop. Era simples perguntar: Na sua concepção, o que é underground hoje? Porra, a oportunidade de questionar um cara do “contra o sistema” que virô produto. O que é “contra o sistema” hoje? Mas não. Ninguém é capaz de pensar numa pergunta dessas, simplesmente porque tá todo mundo robotizado, seguindo sua programação, incapaz de pensar de forma independente. Todo mundo no sistema porra! Daí colocaram aquela megera (nitidamente uma neurótica controladora) da esposa do Crumb pra fazê propaganda da porra do livro egocêntrico dela que, pelo que entendi, publicaram só umas merreca há 10 anos e hoje nem existe mais.


Mau humorado?? O Crumb só foi ele mesmo, pô! Um cara mau resolvido, mau humorado, que vive e gosta do seus próprio universo, aparentemente autêntico, que simplesmente não entende porque todo mundo dá tanta bola pra ele. A Folha bem que podia ter escalado o Laerte ou o Angeli pra mediar a mesa, mas os cara num pensa porra! Não tenho mais nada a falar desse assunto. O mais bacana foi o Geilbert Shelton praticamente dormindo na cadeira do canto. Isso que é underground!!

Depois, fiquei duas horas na fila pra tentar pegar um autógrafo do Crumb. Ele só autografou para os cem primeiros, que estavam na fila antes da sua mesa ter começado. Nem tinha tanta gente assim na fila. Com 10 pessoas há minha frente, ele se levantou e foi embora. Por isso tenho que botar o dedo na ferida: o negócio foi mal organizado.

Ainda assim valeu muuuuito. Conheci o Gilbert Shelton. E virei fã do cara.


As 23h30 peguei o busão de volta pra São Paulo. Só no dia seguinte, vendo TV, me toquei que o gordão barbudo que foi e voltou da FLIP no mesmo busão que eu era o Ferrez . Realmente, a burguesia fede.

Pra quem gosta do Crumb, há chance dele aparecer na Bienal do Livro. Fica esperto gente.

Em breve publico aqui um filminho da minha ventura em Paraty. Té mais.