segunda-feira, 29 de abril de 2013

a magia do encontro II...



Não reajo necessariamente à pessoa por quem me apaixono.

Ver o outro de verdade, como ele realmente é, é o mais raro acontecimento.

Porque tendemos a interagir com as projeções das fantasias que criamos sobre os outros, e não com os outros em si.

O mesmo não é diferente em nossa relação primeira: a relação que temos com nós mesmos. É difícil interagir com o “eu mesmo” quando em geral reagimos às fantasias que criamos sobre nós.

Eu crio fantasias sobre mim. Crio fantasias sobre os outros. Os outros criam fantasias de si mesmos. Criam fantasias sobre nós. E esses sonhos raramente coincidem. Como duas pessoas que assistem a dois aparelhos de TV na mesma sala. Sequer a programação que assistem é a mesma. Como interagir de verdade assim? Trocamos, no máximo, impressões sobre nossas programações mentais.

O ponto alto é que, se discuto ou me desentendo com alguém, não é com a pessoa real que me desentendo, mas com a fantasia que eu fazia dela. 

Depois digo, crendo-me certo, que o outro me decepcionou. Mas o outro é inconsciente e incapaz de predizer suas atitudes de forma coerente até consigo mesmo. Raramente irá querer me decepcionar propositalmente. Os sociopatas existem, mas não são a maioria. Os zumbis são.

Eu morto-vivo do meu lado. Você mumificando-se do seu. Dois sonâmbulos vivendo em sonhos.

Então se não é com você que me desentendo de verdade, não é a você que devo desculpas ou exijo explicações. Devo entender-me é com as minhas fantasias e com o aparelho que as projeta nas telas da vida. Devo entender-me com minha mente e as crenças que a influenciam comumente.

A fantasia que fiz de você é que me decepcionou pois não pude prever que nem você saberia dizer quem é você de verdade. É a minha mente que devo explicações e a quem devo exigir desculpas por minhas errôneas ponderações. Esse fantasma que assombra meus pensamentos e lembranças, trajado com roupas similares as tuas, simulacro clonado de minhas impressões distorcidas de mundo, dos meus conceitos mal decorados sobre o que é a vida, o que é uma relação e o que é o amor.

Aí percebo que se pouco relacionei-me de verdade contigo, pois pouco relacionei-me de verdade comigo, tudo que sentia jamais poderia ser chamado de amor. Pois tudo que se evidencia nessa confusão é que me falta.

Falta a consciência de mim, de quem sou e do que realmente sinto. Falta a consciência de afeto e respeito. Se não desenvolvo por mim esse afeto e respeito, posto que me desconheço, passo a carecer de elementos que me preencham, que busco na relação com a fantasia que criei sobre o outro.

Toda vez que disse “eu te amo”, menti. Agi movido pela carência.

Ainda agora o que sinto é carência de ti, pois te queria por perto, se possível nua, oferecendo-me afeto. Só posso querer se ainda não tenho. Careço de afeto e respeito por mim.

Se desperto em mim o respeito e o afeto, o amor transborda. Se não me entendo, ao menos me aceito. Feliz. Amo a tudo e a todos. Amo a partir do amor por mim. Deixo de querer de ti e posso finalmente te ver como tu realmente és, sem medo de ferir e sem ansiar pelo teu amor.

O encontro acontece. A magia enfim.


Referencias:

"O Domínio do Amor" - Don Miguel Ruiz

"Apelo ao Amor" - Anthony de Mello, SJ

Para quem manja um pouco de inglês, os vídeos abaixo serão bastante esclarecedores:







Se alguém se dispuser, seria bom fazer as legendas...