segunda-feira, 2 de julho de 2012




É possível ser senhor do próprio destino?

O ser humano tem por habito se gabar por sua capacidade de raciocinar, sobrepondo-se aos outros seres e crendo-se espécie dominante deste planeta.
Criamos ciências, economias, indústrias, religiões.
Mas somos realmente donos de nossas vidas?

Costumo dizer que somos frutos de pelo menos quatro forças principais: genética, cultura, experiências pessoais e acaso.
A combinação destas forças tende a moldar nossa visão de mundo e nossa maneira de ser.

Em nossa arrogância, nos cremos superiores, diferenciados dos outros seres, como se fossemos senhores de nosso destino.
Mas pense bem: quantas vezes você não se frustrou por um desejo não realizado?

Quantas vezes nos esforçamos e fazemos todo o visivelmente possível para alcançar um resultado positivo num aspecto qualquer de nossas vidas e o que encontramos é o amargo do fracasso?

Nossa ânsia de controle e poder sobre a vida é confrontada por detalhes como o tempo, o espaço, a tecnologia vigente, o senso comum.
Não controlamos o transito na hora do rush, não controlamos o clima na hora da chuva, não controlamos o medo na hora do assalto, não controlamos a impotência diante da morte.

Somos formigas na teia do infinito, seguindo trilhas em fila, de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Procurando viver ou sobreviver, coletando, plantando, produzindo, inventando e iludindo. Sonhamos com os bolsos cheios da grana, a mulher amada, a família perfeita. Filhos que darão continuidade à corrida pela produtividade. De casa para o trabalho e do trabalho para casa, seguindo trilhas em fila, como formigas na teia do infinito.


Comparado à idade do planeta, somos apenas a mais recente poeira, que em breve se esvairá com o vento das eras.
Poucos despertam sua consciência para algo mais substancial.

Percebo-nos muito mais marcados por determinismos do que poderíamos querer.

Recentemente, brindei-me com o seriado Força da Vida, veiculado algumas noites na TV Brasil. Trata-se duma produção da NHK (TV pública japonesa) que percorreu vários cantos do mundo registrando imagens da natureza com enredos justapostos pela teoria evolucionista.

O que descobri é que, com nossas pomposas articulações, criando arte, ciência ou cultura, não fazemos mais que a luta pela perpetuação da espécie, nada diferente de todas as outras espécies que co-habitam este mundo. Somos, talvez, mais engenhosos.

Impelidos pelo determinismo biológico disputamos recursos e melhores condições de sobrevivência com nossos adversários das diversas classes de seres, principalmente com os da nossa própria. Daí as guerras.

A maneira específica como criamos estratégias para existir, em grupos, transmitida pelas gerações, forma o que denominamos cultura.
Nascer brasileiro, com nossa história de país colonizado, já carentes de auto-estima e pedantes com nossa própria origem, é outro determinismo.

Somemos a maneira “subjetiva” de encarar as situações, nossas experiências pessoais, e o acaso.

É muita ilusão crer que podemos controlar todas essas influências, sobrepujá-las, com uma mente originalmente influenciada.

Aí chegamos ao ponto. Dificilmente somos puros em nossas condutas e escolhas. Agimos guiados por uma mente fruto das forças do mundo. Uma mente que tende, por impulso biológico de sobrevivência, a lutar para perpetuar sua programação, como o computador HAL 9000 do filme Uma odisséia no espaço.

Para evoluir com dignidade, para a posse real de alguma interferência genuína em nosso destino, é preciso confrontar essa programação mental, a fim de permitir emanações espontâneas do fundo de nosso ser, daquele recôndito que Jung chamou de Self.

... a base da imaginação é não ter imaginação, é conseguir romper com tudo que é imaginário. A partir daí, pode-se fazer tudo o que se quiser.
Se não rompermos com o imaginário, ficaremos sempre na situação de um parasita ...   
(Jodorowsky, Alejandro – Psicomagia – Pág. 263-264)

A maneira como penso, imagino ou percebo minhas experiências agora, não e neutra, mas impregnada de uma história micro e macro cultural, influenciada pela biologia. Qualquer coisa que eu imaginar com esta mente vai reproduzir aspectos dessa história, como um parasita. Nós não somos genuínos. Já nascemos prisioneiros.

Nem teus desejos são verdadeiramente teus. Eis a chave da propaganda.

Para libertar-se é preciso transcender a mente, superar os limites das crenças ou programações pessoais, sobrepujar as influências familiares e culturais.

Como disse Pessoa:


O essencial é saber ver, 
mas isso, triste de nós que trazemos a alma vestida, 
isso exige um estudo profundo, 
aprendizagem de desaprender. 

Eu prefiro despir-me do que aprendi, 
eu procuro esquecer-me do modo de lembrar 
que me ensinaram e raspar a tinta
 com que me pintaram os sentidos,

desembrulhar-me
e ser EU.



E só lembrando, a classe dominante em nosso planeta é a dos artrópodes... 


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