sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Robert Crumb passou pela FLIP.



Não sou lá grande conhecedor de sua arte underground. Li Fritz, the Cat. Li Blues. Baixei e curti de verdade as músicas do Cheap Suit Serenaders. Sou fã de seu jeito e arte únicos. Jeito e arte de quem não está ligando muito para os outros e vive no seu próprio universo, da própria maneira. Ganha a vida e faz sucesso exatamente por isso.

Desde maio que eu planejava participar de sua mesa na FLIP. As datas da feira coincidiriam com o início das minhas férias. Cogitei comprar um pacote de pernoites em uma pousada mas desde maio os preços e as reservas estavam inflacionados. Além disso, a venda de ingressos para as mesas literárias foi monopolizada pela ticketmaster (odeio essa empresa, mas somos reféns dela no que concerne a shows e eventos) e os ingressos para a mesa de Crumb acabaram menos de duas horas depois do inicio das vendas (assim disse a atendente).
Comprei um ingresso a R$10,00 para assisti-lo de um telão.



Crumb foi o chamariz, mas não o motivo principal de minha passagem por Paraty. Fiz um bate e volta de ônibus pela Reunidas. Saí de Sampa no sábado (07/08/2010) às 8h. Cheguei a Paraty por volta das 14h. Em frente à rodoviária avistei um ponto de informações para turistas e cheguei ao local da FLIP, a pé, facilmente.

Não foi minha primeira vez na cidade. Há 25 anos fui com minha família para Angra dos Reis e passamos alguns momentos em Paraty. Do que mais me lembrava eram as casas de arquitetura colonial, as ruas de pedra, as bonecas artesanais feitas de corda de sisal (que a cultura local já perdeu) e as jacas que caiam dos pés de maduras.
Desta vez, foi maravilhoso e estranho ao mesmo tempo. Maravilhoso ver a cultura transbordando por todos os lados. Crianças, jovens, velhos e adultos na festa do saber, celebrando cultura. Isso gera um ambiente engrandecedor. Porém, ele estava lá, travestido de boas intenções. Ele: o comércio. Muito de tudo era apenas marketing e oportunidade de giro do capital. O bestial capitalismo movendo tudo e todos. A gana do consumismo desenfreado. Mas já que o fundamento da sociedade atual é o consumo, que consumamos cultura.

Perverteram o Realejo em prol da venda de cerveja



Passeei, comi um peixe com camarão e suco de pitanga, encontrei pessoas interessantes. Conheci uma figura tão curiosa quanto o próprio Crumb: o Homem-Borboleta, que até me deu aulas de história.

Finalmente, por volta de 19h, a tão esperada presença de Robert Crumb. Ver uma entrevista desse cara no Brasil é algo tão inusitado quanto testemunhar o cometa Halley. O homem é quase um eremita, auto-exilado numa cidadela francesa. Não dava para perder.
Quem gosta, provavelmente já leu a respeito nos jornais, mas meu relato e livre de mazelas, nu e cru. Erraram feio ao escalar o Sérgio Dávila para mediar a mesa. Respeito sua carreira profissional, mas o cara é correspondente de guerra, Pô! Que que isso tem a ver com quadrinhos?!? Magrão, de Barba, sandálias... será que suspeitavam que o Crumb era o Bin Laden disfarçado?? Porra, com tanta coisa interessante pra perguntar foram mandar aquela velha história de “o que você acha da mulher brasileira?”. Por isso que todo estrangeiro que chega aqui acha que toda brasileira é puta!
Robert Crumb foi o pai dos quadrinhos underground. Mas hoje ele é cult-geak-pop. Era simples perguntar: Na sua concepção, o que é underground hoje? Porra, a oportunidade de questionar um cara do “contra o sistema” que virô produto. O que é “contra o sistema” hoje? Mas não. Ninguém é capaz de pensar numa pergunta dessas, simplesmente porque tá todo mundo robotizado, seguindo sua programação, incapaz de pensar de forma independente. Todo mundo no sistema porra! Daí colocaram aquela megera (nitidamente uma neurótica controladora) da esposa do Crumb pra fazê propaganda da porra do livro egocêntrico dela que, pelo que entendi, publicaram só umas merreca há 10 anos e hoje nem existe mais.


Mau humorado?? O Crumb só foi ele mesmo, pô! Um cara mau resolvido, mau humorado, que vive e gosta do seus próprio universo, aparentemente autêntico, que simplesmente não entende porque todo mundo dá tanta bola pra ele. A Folha bem que podia ter escalado o Laerte ou o Angeli pra mediar a mesa, mas os cara num pensa porra! Não tenho mais nada a falar desse assunto. O mais bacana foi o Geilbert Shelton praticamente dormindo na cadeira do canto. Isso que é underground!!

Depois, fiquei duas horas na fila pra tentar pegar um autógrafo do Crumb. Ele só autografou para os cem primeiros, que estavam na fila antes da sua mesa ter começado. Nem tinha tanta gente assim na fila. Com 10 pessoas há minha frente, ele se levantou e foi embora. Por isso tenho que botar o dedo na ferida: o negócio foi mal organizado.

Ainda assim valeu muuuuito. Conheci o Gilbert Shelton. E virei fã do cara.


As 23h30 peguei o busão de volta pra São Paulo. Só no dia seguinte, vendo TV, me toquei que o gordão barbudo que foi e voltou da FLIP no mesmo busão que eu era o Ferrez . Realmente, a burguesia fede.

Pra quem gosta do Crumb, há chance dele aparecer na Bienal do Livro. Fica esperto gente.

Em breve publico aqui um filminho da minha ventura em Paraty. Té mais.

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