terça-feira, 11 de março de 2025

Brincar, viver e sonhar !


 


Clarêncio, o Otimista é uma série animada veiculada pelo Cartoon Network, criada por Skyler Page e produzida entre 2014 e 2018, com cerca de 130 episódios distribuídos em 3 temporadas.


Trata basicamente do cotidiano de um menino ingênuo e imaginativo, num ambiente e numa época que ainda permitiam brincar na rua, subir em árvores, colecionar insetos, conversar com estranhos sem medo e dar vida às fantasias.


Nostálgica e inteligente, faz referências à iconografia pop e exibe de modo suave e engraçado assuntos e situações que poderiam ser polêmicos.


Por exemplo, nada se fala do pai biológico de Clarêncio, mas junto com o menino e sua mãe vive Chadão, um outsider imaturo parecido com Homer Simpson. Nas nuances o entendemos como referência paterna, não a ideal, mas a possível.


De forma semelhante nos apresentam as famílias de seus melhores amigos. O selvagem e fiel Sumô vem de uma família humilde e numerosa, mas rica em valores. Já o excêntrico Jeff tem duas mães em união homoafetiva. Sem mimimi partidário, o cotidiano dessas famílias surge em suas diferentes matizes, naturalmente.


Recomendo assistir ao menos alguns episódios que considero os melhores, como “Os milhões do Clarêncio” (temporada 1, episódio 05), que traz uma verdadeira aula de economia e leis de mercado. Tudo começa quando Clarêncio questiona o método das estrelinhas usado como punição ou recompensa por sua professora durante as aulas. Revolucionário, o menino cria o dinheiro do Clarêncio, que distribui gratuitamente para todos, indiferente ao mérito, inflacionando o mercado das recompensas bioquímicas e causando uma verdadeira rebelião. Para mais que uma incitação à revolução socialista, gosto de usar este capítulo para exemplificar nossa economia de afetos, que acontece quando cultivamos autoestima e não dependemos mais dos valores estipulados pelos grupos, tornando-nos indiferentes às ameaças de rejeição e constrangimento que ocorrem quando destoamos do padrão.



Escola dos frangos da cavalaria” (temporada 1, episódio 26) é um episódio que se destaca por suas referências a clássicos das teorias de conspiração, como “Vampiros de almas” e suas refilmagens. Numa iniciativa curiosa, a escola de Clarêncio se submete ao patrocínio de uma rede de fast food e o que vemos aos poucos é uma sucessão de técnicas de lavagem cerebral e coação grupal que denotam cada vez mais o domínio das instituições sobre o livre arbítrio no melhor estilo illuminati. O clima lembra filmes de sessão da tarde como Criaturas (Critters, 1986), O enigma da pirâmide (1985) e Invasores de Marte (1986).



“Nos Sonhos” (temporada 1, episódio 49) é surreal, abordando temas como psicanálise e os conteúdos do inconsciente, enquanto retrata o fenômeno dos sonhos lúcidos. Chega a ser didático.



Faz-me lembrar de outra pérola que assisti recentemente pela Amazon Prime, a série de anime Ghost Hound. Fechada em 22 episódios, trata-se da adaptação de um mangá do mesmo nome onde três amigos passam por experiências extrassensoriais como sonhos lúcidos, viagens astrais, premunições, visões remotas, incorporações e outros fenômenos paranormais.



A consciência de que a realidade objetiva é apenas uma dentre as várias dimensões da existência, permite encarar a vida como um sonho.


Os contos zen budistas falam do monge que sonhou ser uma borboleta. Ao despertar, já não sabia mais se ainda era um monge que sonhara ser borboleta ou se era uma borboleta sonhando ser um monge.


Nos livros de Dom Miguel Ruiz isso que denominamos realidade é explicado como uma convenção social, um sonho coletivo que os toltecas chamavam de mitote. Nos sonhos lúcidos a plasticidade da matéria é um fato. Talvez um exercício para a manifestação de realidades fantásticas. A começar por “Os quatro compromissos”, somos convidados a despertar desse sonho coletivo e assumir a maestria pela criação e manutenção de sonhos mais encantadores, de uma vida mais maravilhosa.


O universo onírico é muito explorado nas premiadas produções dos Estúdios Ghibli.


Também no recente filme ganhador do Oscar de animação, Flow, somos convidados a sonhar acompanhando um gato e seus amigos numa jornada inesperada. Emoção e poesia em forma de imagens em ação.



Enfim, voltando ao Clarêncio, na 3a temporada o vemos incapaz de lidar com as mudanças e exigências da puberdade, denotando a inabilidade dos roteiristas em tratar assuntos mais densos com a mesma leveza e bom humor das temporadas anteriores, talvez devido a sombra do politicamente correto que já pairava no ar, ou simplesmente porque Clarêncio se recusa a amadurecer e acaba virando um menino chato. Ainda assim, recomendo.


Assistir as aventuras de Clarêncio é um exercício de brincar e sonhar.



sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Lançamento Oficial !!!

Marque na sua agenda!


Sábado, 22 de fevereiro de 2025, as 16h00


Na Livraria da Vila do Shopping Morumbi,

Pertinho da estação Morumbi da linha esmeralda,

grande lançamento!



Venha me dar um abraço, tirar uma foto comigo

e adquirir seu exemplar autografado!


🥰🙏🏼  


sábado, 25 de janeiro de 2025

Chico Bento e a DMT

 Assisti “Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa” e fiquei maraviado!

Sou um urbanóide paulistano, mas minha família paterna é de Pomerode, uma pequena cidade do interior de Santa Catarina. Na minha infância, havia a tradição de passarmos as férias na casa de meus avós. Lá, tomei banho de rio, pesquei na lagoa, comi butiá do pé e vi o céu estrelado. Com tios e primos vivi aventuras que a cidade grande não permitia.

Meus avós tinham um açougue e mercearia. Meu primo Denis costumava ajudar minha tia Dagmar a fazer as entregas e recebia gibis como pagamento. Quando eu estava por lá, ajudava também. Foi com incentivo da tia e do primo que tive meus primeiros gibis.

Mais que um passatempo, os gibis me ajudaram a estruturar o hábito da leitura. Assim que tive oportunidade imitei meu primo e pedi de aniversário uma assinatura de gibis da Turma da Mônica. Meu personagem preferido sempre foi o Chico Bento.



Quando assisti os primeiros trailers do filme, fiquei arrepiado. Gostei muito da primeira experiência realizada em “Turma da Mônica: Laços” (2019) e mantive a esperança de encontrar mais um trabalho de qualidade.

“Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa” é dirigido por Fernando Fraiha, um dos responsáveis pela premiada série da Netflix “Ninguém está olhando” (2019).

O enredo inicialmente nos apresenta às versões humanas das personagens do gibi e ao cotidiano bucólico da Vila Abobrinha, evoluindo para uma trama que valoriza temas como ecologia e vida comunitária em contraponto as ambições mesquinhas dos falsos progressistas. Tudo por que o pai do Genezinho quer arrancar a goiabeira do Nhô Lau para fazer uma estrada.

A ambientação é rica e exuberante, repleta de natureza e temas que remetem à vida na roça. Lembra-nos que crianças podem sim brincar e estudar sem a perturbação dos celulares.

Incomodei-me apenas com o velho problema de áudio que prejudica o cinema brasileiro. Algumas falas das personagens foram simplesmente incompreensíveis. A captação de som direto é sujeita a imperfeições que nem sempre a edição consegue resolver. Talvez valesse a pena o recurso da redublagem para melhorar a qualidade, ainda mais quando temos atores mirins usando o dialeto caipira.

Isso era tudo o que eu podia escrever sem revelar mais detalhes da trama. Se você ainda pretende ver o filme, pare por aqui.

ALERTA ! À PARTIR DAQUI, CONTÉM SPOILERS !

Chico Bento tenta todos os recursos para salvar a goiabeira do Nhô Lau, afinal, não se trata só de seu interesse pela fruta, mas de uma árvore com a qual tem uma ligação mística.



Então, no melhor estilo xamânico ou iniciático, acompanhamos sua viagem primal, sem auxílio de fitoestimolantes, quando Chico encontra o espirito da árvore nos recônditos da Terra. Primeiro ele se torna formiga, experimenta a comunhão do grupo, torna-se árvore e sente a comunhão da terra, transforma-se em pássaro e entra em comunhão com os céus, reintegrando suas sombras para só então ter a visão de conjunto que lhe proporcionará a solução de seu enigma. É preciso ver do alto para entender. Mas só quem vive o profundo pode ascender. Só os envolvidos podem se desenvolver. E o melhor símbolo para representar a união do céu com a terra, do zênite e do nadir, é a árvore. Sua copa e suas raízes nos ligam a tudo. “...Sobe da terra para o Céu e desce novamente à Terra e recolhe a força das coisas superiores e inferiores. Desse modo obterás a glória do mundo. E se afastarão de ti todas as trevas. Nisso consiste o poder poderoso de todo poder …” Não à toa era esse o símbolo do nosso saudoso colegiado.



Não estamos viajando na maionese ao encarar Chico Bento como um personagem místico. Maurício de Sousa abordou assuntos esotéricos e paranormais em diversas historinhas, muitas vezes com a profundidade de um iniciado.



Em entrevistas ele já deixou claro que se inspirou em si mesmo e em sua infância interiorana para criar Chico Bento. Aliás, é linda a homenagem que o filme traz, com uma breve aparição do Maurício, ao estilo Stan Lee.

Chico é o caboclo, influenciado pela mesa branca, pajelança, umbanda ou jurema, herdeiro das tradições de benzimento, meio malandro, mas de coração puro. O filme consegue trazer esse aspecto transcendente de forma natural, apresentando-nos à individuação como ela poderia acontecer, simples e livre de apelos artificiais ou ritos institucionalizados.



Nada contra a busca de estímulos, mas me preocupa a falta de contexto como as plantas de poder às vezes são tratadas. Estudos e práticas vêm demonstrando o potencial curativo da DMT e de outras substâncias capazes de expandir as percepções, seja de forma natural, a partir da ingestão de chás, plantas e cogumelos, seja a partir de sintetizados como LSD ou MDMA. Mas o uso recreativo pode levar a efeitos nocivos como fuga da realidade e dependências química ou psicológica. É preciso lucidez para evitar a banalização.

Até onde pesquisei, goiaba não tem DMT, mas a goiabeira do Chico é misteriosa… vá saber!

Nosso corpo produz DMT e ela parece estar associada às experiências transcendentes, mas não deveria ser encarada como a causa desses estados ou como um fim em si. Ela seria apenas o “veículo químico” das experiências. Para “ver além” a ciência teria que admitir a existência extracorpórea da vida e a permanência da consciência para além da matéria. Um espiritualista entende que a matéria é produto da consciência e não o contrário. Assim seria mais fácil compreender fenômenos como as dores em membros fantasma descritas por amputados por exemplo, ou o encontro com entidades extrafísicas troposféricas que se queixam de dores em órgãos, mesmo destituídas do corpo outrora adoentado. A realidade é um estado de consciência.

Alegro-me com filmes assim. Encantei-me também com outro filme de caráter iniciático, o ganhador do Oscar “O menino e a Garça” (Miyazaki, 2023), já disponível na Netflix.



Há alguns dias revi pela Amazon outro clássico da minha infância, uma produção de Copolla, “O Corcel Negro” (1979), e reencontrei o tema da reintegração psíquica através da amizade entre Negro e Alec. As majestosas cenas na ilha deserta ilustram a dança de reunião entre instinto e consciência que viriam a justificar o mito dos centauros.



Enfim, chega de divagar por hoje…

Assistam os filmes e me digam o que sentiram!

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

AUTOESTIMA: Seja responsável pela sua felicidade!

 


Esta é uma obra de desenvolvimento pessoal que explora a importância da autoestima como alicerce fundamental para a felicidade e o bem-estar, oferecendo reflexões profundas sobre o autoconhecimento, a aceitação pessoal e o amor-próprio.

Em capítulos que combinam narrativas pessoais, metáforas e ensinamentos psicológicos, o autor utiliza uma linguagem acessível para guiar o leitor por uma jornada introspectiva.

...cultivar autoestima é explorar potencialidades desconhecidas, desbravar a infinitude do universo íntimo, expandir a consciência do Amor e praticar respeitosamente o apreço por tudo aquilo que encontramos em nós mesmos.”



Renato Guenther tem formação em psicologia com experiências em educação e audiovisual.

Atuou por mais de 15 anos junto à Rede de Atenção Básica à Saúde em um município da Grande São Paulo, onde também esteve à frente da premiada Oficina Experimental de Cinema Digital, produzindo curtas-metragens como recurso coadjuvante nos tratamentos de saúde mental.

Pesquisador independente, investiga a metafísica, o hermetismo e a espiritualidade livre, buscando compreender as relações multidimensionais entre a vida e os seres.

Desde a adolescência tem a autoestima como tema de pesquisa pessoal, trazendo finalmente na presente obra parte de suas descobertas e reflexões.



Leia na íntegra a entrevista na Revista do Livro, compartilhe e deixe seus comentários.



Já está disponível também a edição no. 57 da Revista Projeto Autoestima, contendo, entre outras novidades, uma entrevista sobre o livro "Autoestima: seja responsável pela sua felicidade!".

Para ler, comentar e compartilhar, 
baixe a revista em PDF gratuitamente neste link!


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Compre aqui:

terça-feira, 10 de setembro de 2024

Bienal do Livro de SP 2024


Estive na Bienal do Livro, vou sempre que posso e gosto muito, mas a senti meio compacta este ano, estandes menores, ausência de muitas editoras e livrarias. Senti falta por exemplo do tradicional estande da Comix.

Também ficou evidente o tom "instagramável" que o evento vem ganhando, com muitas filas para poses e fotos em instalações próprias pra isso.

Aproveitei para pesquisar editoras e alternativas para confecção de meu novo livro.

Fiquei muito feliz e entusiasmado com a Fraternidade de Escritores, um grupo de autores independentes que se reuniu para bancar um estande. Deram-me dicas valiosas.

Fascinei-me com a autora e ilustradora Talessak, alem de super simpática, é muito talentosa e corajosa. Conquistou minha admiração!

Ganhei livros lindos do Clube de Literatura Clássica e reencontrei o saudoso Luiz Wilson, que colaborou com nosso premiado curta-metragem "O Verdadeiro Encontro" há alguns anos!



Aproveitem, o evento ainda tem livros a preços muito convidativos, sessões de autógrafos, distribuição de brindes, shows e palestras. Continua até 15 de setembro. Recomendo!



quinta-feira, 6 de abril de 2023

Bloodshot e as armadilhas da mente (contém spoilers)

 


Bloodshot (2020)  é uma ficção de super-heróis com muito ação. Estrelado por Vin Diesel, é baseado numa história em quadrinhos de mesmo nome, em que um sujeito é ressuscitado e melhorado com emprego de nanotecnologia, tornando-se um Cyborg (cybernetic organism ou organismo cibernético) .


A primeira parte nos apresenta um enredo fraco e previsível, bastante estereotipado, com destaque exagerado às cenas de ação. O personagem adquire capacidade de regeneração quase instantânea, forças e habilidades que o tornam uma “máquina de matar”, saindo em busca de vingança contra aqueles que tiraram sua vida e assassinaram sua namorada. Porém, com o desenrolar da trama acompanhamos Bloodshot numa incrível descoberta: suas memórias foram implantadas e seus sentidos modificados a partir de simulações para que acredite estar se vingando de seus algozes, mas o soldado está sendo usado repetidas vezes para eliminar diferentes alvos predeterminados por seus mentores, como uma arma semiconsciente manipulada por narrativas fragmentadas.

O personagem de Guy Pearce é a mente distorcida por trás do projeto nefasto. Curiosamente, é o mesmo ator que interpreta o sujeito dissociado em Amnésia  e também a inteligência maquiavélica por trás do falso vilão em Homem deFerro III .

Varias ideias e referencias nos vem a mente, passando pela alegoria da caverna de Platão  até as simulações de realidade do universo Matrix.

É interessante perceber na abordagem do filme como nossa mente é persuasiva, criando realidades mesmo diante de memórias e sentidos distorcidos ou pervertidos. Na vida também existem seres mau intencionados, capazes de tirar proveito das reações imediatas de sobrevivência e de defesa territorial administradas por nosso cérebro instintivo e pelo sistema límbico. Podemos reagir impulsivamente e de forma agressiva diante de meras insinuações, ou apenas para defender crenças e opiniões, como se estivéssemos lutando pela própria existência. Esses impulsos podem ser mortais, pois tratam efetivamente da nossa sobrevivência. Se manipulados com más intenções tornam-se armas à favor do caos. É assim que multidões incitadas podem causar estragos irreparáveis em favor de grupos nefastos. Ou meros debates, como uma discussão no trânsito ou uma exaltação numa conversa trivial, podem resultar em tragédias.

Nossa relação com as realidades é envolvente. Não preciso de um óculos virtual para imergir num mundo virtual. A mente já proporciona essa experiência imersiva, preenchendo lacunas informativas com pressuposições, crenças ou lembranças. A consciência não se expande, mas cresce na direção em que orientamos o foco de nossos sentidos, analogamente ao fototropismo vegetal.

Há que se examinar com minucia que nesse fenômeno botânico a luz inibe o crescimento de algumas células de modo que as células menos expostas à luz continuam crescendo, gerando a curvatura de galhos e caules na direção que menos cresce, na direção da fonte de luz.

Para que você cresça em direção a minha luz, eu preciso inibir a abrangência da tua consciência.

Narrativas são como fontes de luz que não contemplam a verdade como um todo, mas direcionam nossa atenção para apenas alguns de seus aspectos, limitando realidades.

O Demiurgo trabalha desse modo, fragmentando e limitando nosso contato com o Todo, direcionando nossa atenção apenas para aquilo que lhe parece conveniente.

Vivemos uma realidade coletiva a partir da manipulação cultural. O excesso de informação tornou-se o mesmo que informação nenhuma. A falta de referências confiáveis e a incoerência provocam angústia e pânico.

Essa instabilidade costuma ser retratada em romances e filmes de ficção. Em Eles Vivem (John Carpenter, 1988)  mídia e propaganda usam mensagens subliminares para induzir comportamentos, aprisionando a humanidade em crenças e conceitos. É preciso usar óculos especiais para perceber o engodo.



Só questionando os sentidos e expandindo a consciência podemos perceber além. É preciso sair da caverna para ver a luz.

O verdadeiro apocalipse não é coletivo, trata-se de revelação íntima, revolução íntima. Porém as atuais conjunturas são tão absurdas que suas silhuetas se transluzem através do manto das ilusões, tornando esta Era propícia para uma fuga coletiva da caverna fantástica.


Aos que buscam a Verdade

 


 Sinopse:

Muitos conhecem a parábola dos cegos que, sem o saber, foram levados a apalpar um elefante. Cada cego apalpava uma parte do animal, descrevendo suas impressões. O que tocou as patas pensou tratar-se dum rinoceronte. O que tocou a calda chegou a crer que fosse uma serpente. O que tocou a tromba acreditou ser um polvo. O que tocou as presas descreveu os chifres de uma vaca. E assim cada um defendeu como realidade aquilo que descobria. Somente a partir da soma de suas perspectivas poderiam conceber que a Verdade era maior do que as realidades que podiam perceber.

É na vastidão da Verdade que nos atrevemos a viajar, buscando transcender com palavras as amarras das realidades que cremos e criamos. Uma busca iniciática de autoconhecimento.

Irmão Lobo é o personagem mítico que encontrou nas sombras um ponteiro de Luz incitando-o a esta jornada. Guiado pelas pegadas de outros buscadores e pelas impressões do Universo Íntimo, a ele recorremos, atribuindo-lhe os textos e reflexões deste compêndio como estímulo para a busca da Verdade em nós mesmos.


Sobre a autoria:

Conta-se que, nos idos do século XIII, Francisco de Assis intercedeu em favor de um povoado que era ameaçado por um lobo faminto. Com sua fé, encontrou e acolheu o lobo hostil, que se transfigurou em seu mensageiro.

“Aos que buscam a Verdade” surge de inspirações, reflexões e canalizações que se organizaram como obra esotérica. Meditando nestas mensagens é possível adentrar aos portais da iniciação.

“Quando um homem aponta a lua, o tolo olha o homem, o sábio olha a lua”. A fim de evitar que se confunda a mensagem com o mensageiro, optamos por atribuir a autoria deste conteúdo à personalidade do Irmão Lobo, pois só a busca da Verdade pode saciar a fome do espírito. Só quando o faminto encontra alimento pode então transfigurar-se em mensageiro da obra celeste.


Onde comprar:

Amazon

Editora Viseu 


No You Tube:













domingo, 13 de outubro de 2019

"Coringa" : Precisamos falar sobre isso...


   Esta semana assisti ao filme “Coringa”, com Joaquin Phoenix.

   Trata-se de um primor técnico de fotografia, direção de arte e demonstração do Método numa atuação majestosa do ator principal. Muito provável que receba o Oscar por sua eficiência técnica.

   Revela-nos, a partir de contextos plausíveis e até bastante atuais, as origens do arquiinimigo de Batman.

   Mas devemos buscar nas subliminaridades algumas possíveis intenções não tão nobres.

   Desde a Alemanha de Hitler a arte deixou de servir a Arte. Há sempre um contexto subliminar, uma intenção velada, ainda mais na indústria do cinema americano que serve tão bem à publicidade comercial, moldando comportamentos há décadas.

   Portanto, as palavras que se seguem são um alerta.

   Já escrevi aqui sobre as similaridades entre a mente humana e a arte cinematográfica. Principalmente quando nos referimos às limitações das nossas percepções e à possibilidade de falsas interpretações das diferentes realidades. Tanto na vida quanto no cinema, é muito fácil se cometer o engano de tomar a parte pelo todo. Uma mesma cena pode mudar totalmente sua conotação a depender da perspectiva adotada. Acrescentam-se requintes técnicos, luzes e trilhas sonoras e corremos o risco de glamourizar a barbárie.

   Longe de qualquer censura, acredito que “Coringa” deve ser visto por todos, mas acompanhado de intensos debates.

   No decorrer da história somos apresentados a um pierrot desafortunado que colhe cena após cena amarguras que não semeara. Na busca pelas origens de sua desgraça, em paralelo à sua escalada para a glória, sua perspectiva vai sendo alterada pela insanidade até que seu senso de justiça distorcida nos apresenta à pior das violências propagando o caos.

   É fácil encontrar na obra a distorção de um discurso político/social, refletindo o burguês opressor na figura de Thomas Wayne e o proletário revolucionário na imagem que vai se criando do Coringa. Mas há alguma verdade em se representar a gênese da loucura e da violência na ausência de vínculos saudáveis.

   Em minha prática terapêutica, vivo atualmente a atormentada realidade de jovens e adolescentes emocionalmente frágeis e deprimidos, entregues à ilusão das redes sociais, jogos e vídeos em seus celulares, permeados por pensamentos suicidas e busca por alívio na dor da automutilação.

   Durante as Oficinas de Roda de Conversa ministradas pela equipe da Dra. Albertina Takiuti, na sede da Secretaria de Saúde do Estado de SP, aprendi que a criação e manutenção de vínculos saudáveis é fundamental para a saúde e qualidade de vida do ser humano.


   À partir da interação com diferentes pontos de vista, convivência saudável com diferentes tipos de vínculo, ampliamos nossa percepção das realidades, somando impressões e experiências. É a única forma de um transtornado não se entregar à repetição de impressões distorcidas e opressivas que povoam sua realidade íntima.

   Entenda, as realidades humanas sempre foram sujeitas aos mais diversos tipos de opressão. Há apenas cem anos nosso próprio país pautava sua economia na escravidão e todos sabemos que de alguma forma essa escravidão persiste. Mas o problema maior é quando internalizamos essa opressão e passamos a acreditar que só ela existe, repetindo em nosso universo íntimo as torturas e perversidades a que fomos sujeitados externamente. A repetição íntima dessas posturas sintomatizam a depressão, provocam ataques de ansiedade e pânico e vêm ameaçando nossa civilização.

   A glamorização de um transtornado mental pode ser perigosa se não for acompanhada do debate. Sugiro levar esse filme às escolas, reunirmos alunos, pais e mestres e agregarmos às sessões de exibição grupos de debates engajados na busca de soluções diferentes a fim de prevenir o sofrimento psíquico e a violência que enlaçam tragicamente o personagem principal.

   Batman e Coringa representam as duas faces sombrias da mesma efígie de Janus. A figura remanescente do  “Louco do Tarot”, profanada e destituída de sua simbologia iniciática.  


   A ilusão da separatividade tem nos assombrado. O abuso moral, americanizado pelo termo bullying, tem corroído as instituições de ensino, os postos de trabalho e a sociedade. Temos vagado como essas figuras tristes, os Skeksis e os Místicos do universo de Jim Henson, recentemente restaurado pela Netflix. A violência não é a resposta, mas sim a reparação dos vínculos, a reunião em torno do fragmento perdido do cristal encantado.


   Amando ao próximo como a mim mesmo, pois encontro nele meu reflexo, sou forjado para a única revolução eficiente: a revolução íntima. Transformando-nos e expandindo a consciência, transformamos naturalmente o ambiente, não da forma infantil que nossa mente segregada sugere, mas de maneira respeitosa, humilde e reunida à consciência cósmica, onde o bem pessoal não é destituído do bem universal.