sexta-feira, 13 de agosto de 2010


Faz tempo que não publico nada novo por aqui. Sou assim, um homem de fases. Escrevo, desenho, pinto e danço quando inspirado. Às vezes fico meses só assistindo TV e balançando na minha rede, quase em coma, encubando. De repente, raios de criação fluem pelas têmporas e me consumo de ansiedade na gana de concretizar de alguma forma tudo que me habita.

Enfim, não sei se alguém ainda visita esse blog ou se pára realmente pra ler algo, mas se existe algum público, é também para vocês que este espaço existe,respeitando, principalmente, a minha necessidade de expressão.

Neste mês de agosto entrei de férias. Comprei um charuto cubano, um pisco chileno e uma playboy da Cléo Pires, achando que poderia degustar tudo isso no sossego de minha rede, mas tem tanta coisa acontecendo...

Nos posts à seguir vocês verão minha rápida passagem pela FLIP em Paraty, reflexões cinematográficas geradas por um liquidificador falante e um tempo para deleite junto da dama do folclore nacional.

Este mês ainda promete pois tem a Bienal do Livro, show do Dominguinhos, teatro, cinema, palestra e muita curtição pra rolar.

Não estranhem se os posts pararem novamente por período indeterminado. Não sou urso, mas a qualquer momento posso entrar em hibernação.

Aproveitem e até breve
A velha dama e um tempo quase perdido



Há algum tempo que planejo assistir às gravações dos dois melhores programas da TV Cultura (depois do “Provocações”): Senhor Brasil e Viola minha viola.

Entrei em contato com a produção da TV e fiquei a par dos esquemas de caravana e etc. O Viola é gravado às 4as feiras. É preciso fazer inscrição por telefone ou email com pelo menos duas semanas de antecedência. Para Caravanas é necessário até um mês de antecedência no agendamento.
Uma vez inscrito e tudo acertado, a espera é de mais de uma hora para o inicio das gravações. Justificado por se tratarem de exibições musicais sem playback. É preciso ensaiar e passar o som várias vezes.

Fui contemplado nesta 4ª feira, 11/08/2010, com as gravações do programa a ser exibido provavelmente no dia 29/08.

No começo até assusta a quantidade de velhinhos que vão ás gravações, alguns assíduos. Primeiro entram as caravanas, depois os independentes chamados numero a numero como num bingo.

A grande dama, madrinha de inúmeros músicos e cantores, principal difusora do folclore nacional, já ostentando o peso da idade, chega com pés inchados e dificuldades para caminhar. Porém, sempre bela e vaidosa.
Fomos agraciados com a Banda de Pífanos de Caruaru e a dupla Zico e Zeca. Não bastasse, ainda teve o Caçulinha e um emocionante número final em que todas as marcas do tempo sumiram da amada Inezita quando ela soltou a voz e a alma ecoando o cântico dos caipiras.


Lindo! Lindo!

Mas precisamos fazer algo a respeito. O Público desse programa é de idosos em sua maioria. A Inezita tá com 85 anos. Temo que, com sua partida, desapareça também parte de nossa cultura. Por isso devemos apresentar ao público, desde cedo, esta riqueza. Proponho levarmos as crianças e os jovens para aquela platéia para que, junto com aquela alegre gente velha, o intercambio aconteça e a cultura caipira não feneça.
Apelo à TV Cultura e às escolas que, desde o maternal, proporcionem esse reencontro das raízes brasileiras. Vamos levar as escolas para o Viola! Ói que bacana!!

Viola Minha Viola é um programa para qualquer idade.
Cinema vitaminado

Há muito tempo no cinema nacional não acontecia algo tão bom quanto “Reflexões de um liquidificador”. O roteiro de José Antônio de Souza não perde em nada para as obras de Charlie Kaufman.

Nada de bandido, nada de favela. Não que isso não seja importante, até como denuncia para o nosso cinema. Mas o Brasil não é só isso. A principal característica do povo brasileiro é a criatividade. E isso, esse filme resgata muito bem.
Tanto na produção em si quanto na sua estratégia de lançamento, “Reflexões” faz história. Pra quem não sabe, o filme está passando só no Espaço Unibanco. Toda exibição é precedida de um curta-metregem premiado. E nas sessões das 20h e 22h ainda há show de stund up comedi.

Fui na terça, 10/08/2010. Cheguei uns minutinhos mais cedo. Entrei e fiquei beliscando um salgadinho, pensando exatamente em estratégias de lançamento, em como trazer o público para a frente das produções nacionais. Rememorava a estratégia do filme da Bruna Lombardi, “O signo da cidade”, que foi lançado a R$1,00 no dia 25 de janeiro de 2008, como um presente para São Paulo. Quando de repente a Bruna e o Riccelli passaram na minha frente e sentaram ao meu lado, que nem um casal de jovens namorados. Me deu um puta dum arrepio que até suei. Depois da sessão até tentei falar com eles, mas lá tava cheio de famosos e eu não quis dar uma de repórter do TV Fama.

Mas falando do “Liquidificador”, tenho uma teoria. O eletrodoméstico representa a própria humanidade, adormecida na execução de suas funções, trabalhando como cabe ao objeto que cada um é. Até o momento que, por uma razão qualquer, criamos consciência. O ser desperta e deixa de ser coisa para ser “ser”. Como uma criança vindoura ao mundo, tudo é novidade e só importa degustar a experiência de cada momento, usando todo o livre arbítrio para jamais voltar à manipulação de outrem. Tem muito de taoísmo nessa história. Tem muito de Matrix nessa história. E tem muita poesia e gosto pela vida. Mas aparentemente é um filme de humor negro e moooorte.

Tive que parabenizar a Ana Lucia Torre por seu excelente trabalho. Quase que dô um abração nela, no meio daquele clima de reencontro de colegas de clube que ficou o saguão do Espaço Unibanco naquela noite.


Parabéns a Equipe.

Aos meus poucos leitores, um aviso: assistam em quanto é tempo. Diversão garantida!!
Robert Crumb passou pela FLIP.



Não sou lá grande conhecedor de sua arte underground. Li Fritz, the Cat. Li Blues. Baixei e curti de verdade as músicas do Cheap Suit Serenaders. Sou fã de seu jeito e arte únicos. Jeito e arte de quem não está ligando muito para os outros e vive no seu próprio universo, da própria maneira. Ganha a vida e faz sucesso exatamente por isso.

Desde maio que eu planejava participar de sua mesa na FLIP. As datas da feira coincidiriam com o início das minhas férias. Cogitei comprar um pacote de pernoites em uma pousada mas desde maio os preços e as reservas estavam inflacionados. Além disso, a venda de ingressos para as mesas literárias foi monopolizada pela ticketmaster (odeio essa empresa, mas somos reféns dela no que concerne a shows e eventos) e os ingressos para a mesa de Crumb acabaram menos de duas horas depois do inicio das vendas (assim disse a atendente).
Comprei um ingresso a R$10,00 para assisti-lo de um telão.



Crumb foi o chamariz, mas não o motivo principal de minha passagem por Paraty. Fiz um bate e volta de ônibus pela Reunidas. Saí de Sampa no sábado (07/08/2010) às 8h. Cheguei a Paraty por volta das 14h. Em frente à rodoviária avistei um ponto de informações para turistas e cheguei ao local da FLIP, a pé, facilmente.

Não foi minha primeira vez na cidade. Há 25 anos fui com minha família para Angra dos Reis e passamos alguns momentos em Paraty. Do que mais me lembrava eram as casas de arquitetura colonial, as ruas de pedra, as bonecas artesanais feitas de corda de sisal (que a cultura local já perdeu) e as jacas que caiam dos pés de maduras.
Desta vez, foi maravilhoso e estranho ao mesmo tempo. Maravilhoso ver a cultura transbordando por todos os lados. Crianças, jovens, velhos e adultos na festa do saber, celebrando cultura. Isso gera um ambiente engrandecedor. Porém, ele estava lá, travestido de boas intenções. Ele: o comércio. Muito de tudo era apenas marketing e oportunidade de giro do capital. O bestial capitalismo movendo tudo e todos. A gana do consumismo desenfreado. Mas já que o fundamento da sociedade atual é o consumo, que consumamos cultura.

Perverteram o Realejo em prol da venda de cerveja



Passeei, comi um peixe com camarão e suco de pitanga, encontrei pessoas interessantes. Conheci uma figura tão curiosa quanto o próprio Crumb: o Homem-Borboleta, que até me deu aulas de história.

Finalmente, por volta de 19h, a tão esperada presença de Robert Crumb. Ver uma entrevista desse cara no Brasil é algo tão inusitado quanto testemunhar o cometa Halley. O homem é quase um eremita, auto-exilado numa cidadela francesa. Não dava para perder.
Quem gosta, provavelmente já leu a respeito nos jornais, mas meu relato e livre de mazelas, nu e cru. Erraram feio ao escalar o Sérgio Dávila para mediar a mesa. Respeito sua carreira profissional, mas o cara é correspondente de guerra, Pô! Que que isso tem a ver com quadrinhos?!? Magrão, de Barba, sandálias... será que suspeitavam que o Crumb era o Bin Laden disfarçado?? Porra, com tanta coisa interessante pra perguntar foram mandar aquela velha história de “o que você acha da mulher brasileira?”. Por isso que todo estrangeiro que chega aqui acha que toda brasileira é puta!
Robert Crumb foi o pai dos quadrinhos underground. Mas hoje ele é cult-geak-pop. Era simples perguntar: Na sua concepção, o que é underground hoje? Porra, a oportunidade de questionar um cara do “contra o sistema” que virô produto. O que é “contra o sistema” hoje? Mas não. Ninguém é capaz de pensar numa pergunta dessas, simplesmente porque tá todo mundo robotizado, seguindo sua programação, incapaz de pensar de forma independente. Todo mundo no sistema porra! Daí colocaram aquela megera (nitidamente uma neurótica controladora) da esposa do Crumb pra fazê propaganda da porra do livro egocêntrico dela que, pelo que entendi, publicaram só umas merreca há 10 anos e hoje nem existe mais.


Mau humorado?? O Crumb só foi ele mesmo, pô! Um cara mau resolvido, mau humorado, que vive e gosta do seus próprio universo, aparentemente autêntico, que simplesmente não entende porque todo mundo dá tanta bola pra ele. A Folha bem que podia ter escalado o Laerte ou o Angeli pra mediar a mesa, mas os cara num pensa porra! Não tenho mais nada a falar desse assunto. O mais bacana foi o Geilbert Shelton praticamente dormindo na cadeira do canto. Isso que é underground!!

Depois, fiquei duas horas na fila pra tentar pegar um autógrafo do Crumb. Ele só autografou para os cem primeiros, que estavam na fila antes da sua mesa ter começado. Nem tinha tanta gente assim na fila. Com 10 pessoas há minha frente, ele se levantou e foi embora. Por isso tenho que botar o dedo na ferida: o negócio foi mal organizado.

Ainda assim valeu muuuuito. Conheci o Gilbert Shelton. E virei fã do cara.


As 23h30 peguei o busão de volta pra São Paulo. Só no dia seguinte, vendo TV, me toquei que o gordão barbudo que foi e voltou da FLIP no mesmo busão que eu era o Ferrez . Realmente, a burguesia fede.

Pra quem gosta do Crumb, há chance dele aparecer na Bienal do Livro. Fica esperto gente.

Em breve publico aqui um filminho da minha ventura em Paraty. Té mais.