domingo, 10 de abril de 2011

O valor do trabalho

Atuo como psicólogo clínico numa unidade básica de saúde. A maior demanda corresponde a famílias com queixas de crianças com comportamentos inadequados nas escolas e nos próprios lares. Indisciplina. Falta de consciência quanto às conseqüências das próprias ações. Irresponsabilidade.

Quando chega a mim uma família com uma queixa deste tipo, relacionada a uma “criança-problema”, geralmente uso um roteiro de frases padronizadas: “criança com problema é sinônimo de família com problema”; “filho de peixe peixinho é”; “não trato crianças, trato famílias”; etc.

O que percebo é que os responsáveis pelas famílias brasileiras tendem a reproduzir com seus filhos o modelo de justiça distorcido que se cumpre em nosso país. Impunidade e nonsense.

Nas ultimas décadas, partimos de um modelo educacional pautado na inquestionável autoridade dos pais para um modelo de ausência de autoridade. A vida moderna, a busca por lucro e sucesso, a ansiedade generalizada, o estresse, a falta de convivência, a perda de valores. Hoje ninguém mais tem tempo para nada e as coisas importantes, os pequenos rituais, como comer bolinhos de chuva na casa da vovó, ficaram esquecidos.

As familias de hoje são conjuntos de estranhos sob o mesmo teto, que dividem TVs de plasma e vide-games, mas são incapazes de compartilhar sentimentos e sonhos.

Para confiar em uma pessoa, preciso conhecê-la. Para conhecê-la, preciso conviver com ela. Para conviver com alguém preciso de coisas mínimas como tempo, espaço, oportunidade, predisposição e sensibilidade.

De repente ouço notícias como essa:

Link direto "o GLobo"

Muitos pais percebem que, na corrida pela sobrevivência, acabam negligenciando emocionalmente suas crias. Temem perder o amor de seus filhos e tentam recompensá-los privando-os de qualquer tipo de frustração. Mas a vida é mestra em frustrar expectativas e causar desilusões. Assim surgem gigantes mimados inaptos para a vida e toda sociedade sofre pela falta de estruturação.

Fico me questionando se não é hora de voltarmos a alguns valores. Se não estamos sendo radicais demais ao eximir as crianças de todas suas responsabilidades. Entendo que amadurecer significa aprender a responder pelas conseqüências das próprias ações. Se uma criança cresce sem esse sentido, ela não amadurece. Fica eternamente dependente do senso de seus pais, e sem força para enfrentar a vida.

Por isso sou a favor de medidas como as que vem sendo adotadas pela promotoria de Campo Grande. Eu mesmo recomendo ás familias que atendo, em alguns casos, incumbir tarefas às crianças desde cedo, como por exemplo ensiná-las a lavar as próprias roupas. É muito importate que se desenvolva o senso de responsabilidade, que uma criança entenda que suas ações geram conseqüências e que ela aprenda a responder adequadamente a essas conseqüências.

Aos interessados indico o bíblia da família brasileira, o melhor livro que já encontrei sobre o assunto: “Quem Ama Educa”, do sábio e admirável Dr. Içami Tiba.

E para algumas famílias negligentes, só mesmo na base da avaiana de pau!