sábado, 17 de novembro de 2007

BORBOLETEANDO

(para minha mais nova melhor amiga Stella, a Amazona)


Percebo a borboleta como símbolo da transformação constante. Sua metamorfose, de lagarta gorda e desengonçada em voejante fada das flores, encanta a todos.
Na verdade, a grande maioria dos insetos passa por processo semelhante. Besouros, baratas, moscas, grilos, e percevejos também se modificam. Dadas algumas diferenças, todos têm uma fase larval, quando se arrastam e comem como um glutão alucinado. Uma fase de pupa, como um Buda meditando no casulo enquanto a natureza acontece. E, finalmente, também irrompem como insetos feitos, buscando unicamente uma companhia para entregarem-se ao prazer e procriar.
Mas nenhum deles seduz como a borboleta.
Suas cores, seu brilho, sua cumplicidade com as flores.
O peso do corpo obeso e lento, o tempo ponderando no claustro de seda, o momento final de abrir asas e voar. A transformação perfeita.
Uma trajetória comparável à morte. A transcendência do corpo pela alma. Largar a carcaça inerte e volitar. Embriagar-se nas fragrâncias dos bosques floridos e vicejar.
Hordas de borboletas copulando nos jardins da vida.
Metamorfose ambulante, contínua e incessante, sempre em busca do prazer.
De que vale a vida sem prazer!?
Quero sugar inclusive os ossos da vida e aproveitar até o último deleite.
Metamorfosear e transcender.


(trecho de "Tr3s Universos", breve...)