A mente é um aparelho de criação de fantasias e de projeção
dessas fantasias na tela da realidade.
Tecnicamente funciona como um cinematógrafo.
O cinematógrafo, nos primórdios da ciência e arte do cinema,
tinha dupla função: registrar e imprimir por meio da luz as imagens no rolo de celulóide
e projetar essas imagens depois de reveladas na tela de exibições.
Uma câmara escura com uma lente numa ponta (como o
cristalino do olho humano) e um filme sensível a luz no extremo oposto (como a
retina). O obturador e/ou diafragma faz o papel da pupila, determinando a
quantidade e a velocidade com que a luz ambiente entra nessa câmara escura,
fazendo registrar a imagem na retina.
Fato é que ao operar uma câmera, posso determinar que porção
do ambiente ou da situação pretendo registrar. Posso por exemplo registrar a
superfície da pele do corpo humano e, na hora de projetar essas imagens na tela,
causar a ilusão de se tratar do solo acidentado de um planeta estranho.
A câmera registra, ou melhor, cria uma aparente realidade,
mas muitas vezes sem a gestalt ou verdade da experiência plena. Muitas
situações podem receber uma interpretação por serem registradas num plano
fechado e terem esse entendimento totalmente reinterpretado se registradas em
plano aberto.
Ao projetar essas imagens criadas, transmitimos uma
impressão de realidade que tendemos a interpretar sem filtros de consciência ou
bom senso. Como na experiência em que os irmãos Lumiere provocaram pânico em
alguns expectadores ao projetarem na tela imagens de um trem em movimento.
Somos influenciados pelas imagens, sintetizando neurotransmissores e reagindo a
elas como se fossem experiências verdadeiras.
Quando chegamos ao mundo nossa mente tem um grande rolo
sensível de filme virgem.
Durante nossas primeiras experiências somos influenciados a
registrar imagens ao modo do que se costuma registrar em nosso meio. Nossos
familiares, responsáveis, pais, professores ou ditadores culturais agem com
nossas mentes como quem opera uma videocâmera, apontando o que e como
registrar.
Quando não aprendemos a trocar o rolo de filme, tendemos a
projetar apenas o que já temos registrado, como uma monótona sessão de cinema
que repete sempre a mesma programação de dramas, poucas aventuras e comédias
nonsenses.
Urge lembrar que a câmera é nossa e que podemos trocar os
rolos. Melhor ainda, aposentar o cinematógrafo e adotar as câmeras digitais,
que processam tudo de forma mais simples e fácil, permitindo descartar
agilmente o material que não ficou a nosso gosto.
O papel do terapeuta muitas vezes é como o de um técnico que
ajuda a pessoa a operar essa máquina de criação e projeção com mais bom senso,
descartando as impressões arcaicas ou disfuncionais do meio e procurando
conhecer os conteúdos mais originais do EU verdadeiro.
Teoricamente, ao seguir a verdade do próprio espírito, todas
as coisas tendem a se encaixar, não há perda. Cada passo dado, cada
acontecimento, seja aparentemente classificado de bom ou ruim, é apreciado em
sua essência, funcionando para o aprimoramento da experiência de plenitude do
ser.
Deixamos de gravar e projetar com os olhos fantasiosos do
mundo para gravar e projetar com a essência do espírito. A mente deixa de te
direcionar e você passa a direcionar a mente.
Referências:
- Hugo (2011)
- Poder alem da vida (Peaceful Worrior - 2006)
- Cinema e psicologia (por Cristiane Nova e Helen Copque)