Li alguns artigos que alardeiam o filme como uma propaganda religiosa, depreciando suas qualidades cênicas e artísticas.
Confesso que tenho por hábito desconfiar das produções globais. Tudo que vem do monopólio das telecomunicações deve ser visto com maior critério, desconfiança e precaução.
No entanto, tiro o chapéu para esta produção. Vejo o cobre investido de maneira louvável e consciente.
No começo, com aquelas imagens do umbral, aqueles seres trevosos, e depois, com aquele jeito de falar dos mentores da colônia iluminada, a gente até chega a pensar que Nosso Lar é um filme doutrinário, espírita, maniqueísta. Dá-nos impressão de uma cartilha pomposa, cara e moralista. Mas depois, a magia cinematográfica acontece e a gente entra na história. O que se vê não é um filme espírita, mas um filme que fala do espírito humano, da derrocada da arrogância e da evolução emocional em prol de um sentido maior, cosmopolita e intimista ao mesmo tempo. O que vemos é um homem questionando seus valores e experimentamos com ele uma deferência à nobreza que se oculta em nosso íntimo.
Atuações e efeitos se aliam proporcionando uma experiência de elevação, independente de credo ou religião. Um filme que abre um portal de conexão com o que há de melhor em nós mesmos.
Atentem para a empregada negra da família do médico André Luiz. A extraordinária atriz Chica Xavier tem uma única fala, tão carregada de emoção e ternura que nos surpreende. Esse efeito só se consegue com o domínio da arte da atuação, digno da grande dama que a representa.
Repito. Nosso Lar é menos um filme espírita e mais um filme que fala do espírito humano, da essência que nos habita. Assistam, e permitam-se esta experiência.
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