segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O Ser Multidimensional



Já escrevi sobre as possibilidades de viagens no tempo antes aqui.
Porém, recentemente, algumas sincronicidades  têm me despertado para diferentes entendimentos.

As leituras de tempo e espaço dão margens a várias interpretações. Inicialmente se convencionava pensar no tempo como uma sequência linear de acontecimentos e que a “viagem no tempo” consistia na possibilidade de saltar do ponto presente para um ponto do passado ou do futuro nessa linha temporal.

Depois, com a hipótese dos universos paralelos, viajar no tempo assemelhou-se mais à idéia de uma viagem transdimensional do que a um deslocamento temporal propriamente dito.

Não sei o quanto de besteira há nas palavras que estou usando, mas, da maneira como percebo agora, convém-me entender o homem como um ser multidimensional.

Tudo está acontecendo ao mesmo tempo, AGORA.

Na ultima sexta-feira deleitei-me via TV a cabo com o filme “O Congresso Futurista”  (The Congress – 2014). No filme a atriz Robin Wright interpreta uma alegoria de si mesma, uma atriz em fim de carreira que aceita passar por um processo de escaneamento do próprio corpo e assim ter suas imagens eternizadas em filmes digitais que dispensariam a sua atuação. Até aí a obra levanta uma série de polemicas como o culto da juventude, a ditadura cultural das empresas cinematográficas, etc. Porém, o surreal acontece quando vinte anos depois a mesma atriz é convidada para o tal congresso futurista. O cinema se alia às indústrias farmacêuticas. Criam substâncias que permitem a qualquer um viver o que desejar, como numa tela, ser qualquer personagem que quiser, mas de forma ainda mais real: em sua própria mente.  Já escrevi aqui sobre as analogias entre o funcionamento da mente humana e a arte do cinema. Mas a idéia da mente ser a chave é que me interessa agora.

Recentemente, em “Lucy” (2014) a estonteante Scarlett Johansson tem seu processo evolutivo tremendamente adiantado a partir da ingestão acidental de uma poderosa droga, chegando em questão de horas a desenvolver a onipotência de uma deusa.

A idéia veio antes no maravilhoso “Viagens Alucinantes” (Altered States – 1980) em que Willian Hurt tenta descobrir o “eu original” a partir de experiências de estado alterado de consciência com drogas e câmaras de privação dos sentidos.


E quanto maravilhado fico quando, na manhã de sábado sou brindado com o documentário “A Psicodélica Mente Humana” (Dirty Pictures – 2010), em que sou apresentado à curiosa figura de Sasha Shulgin, o inventor do MDMA, e sua adorável esposa Ann.

A chave é a mente. Ou melhor, os cadeados estão na mente.

O homem é um ser multidimensional, vive AGORA todas as dimensões possíveis, mas só tem consciência da quantidade de informações que sua maturidade permite suportar.

Exatamente agora, quando você decidiu continuar lendo este artigo, uma série de reconfigurações se fez na linearidade da sua consciência. As outras possibilidades não deixaram de existir. Levantar para urinar, mudar a tela do computador para um site de pornografia, desistir dessa leitura e ir ver novela. Tudo está acontecendo ao mesmo tempo agora. Mas sua escolha direcionou o foco da sua consciência para a leitura deste artigo. Todas as outras realidades, ou possibilidades, ficaram na escuridão da inconsciência, mas não deixaram de existir.

O que os estados alterados de consciência fazem, sejam disparados por uma droga psicodélica, sejam por técnicas de respiração ou meditação, é abrir os cadeados da mente. Ampliar o espectro da lanterna da consciência. Incluindo aí a percepção de realidades alternativas.

Dr. Shulgin dá relatos no documentário de suas experiências com drogas experimentais e fala não só de experiências de alteração temporal como também de experiências de onipotência mística, mas ele não fala de um “barato” de um velho alucinado. Ele revela sim a riqueza de experiências reais e o medo de permanecer nesse estado de consciência ampliada.

Veja aqui: https://youtu.be/qXHyKyoHJzo


Maturidade é assumir responsabilidades. A maioria dos seres não está preparada para essa escolha. Por isso vivemos na tridimensionalidade, onde o tempo é linear e o espectro da consciência é restrito.

Tudo está acontecendo ao mesmo tempo agora. Passado, presente e futuro, conjuntos de possibilidades, em realidades alternativas e universos paralelos. Mas só temos consciência daquilo que o compromisso com a própria responsabilidade permite.

Nossa reação condicionada é de ter medo das responsabilidades, como se maturidade emocional fosse sinônimo de compromissos e sacrifícios. Mas é uma percepção enganosa baseada em experiências ruins do passado.

O que nos faz sofrer não é ampliar o grau de responsabilidade conosco mesmo. O que nos faz sofrer é querer ser responsável pelo outro.  Sofremos por sabermos se tratarem de variáveis que não podemos controlar.

Sofremos também quando insistimos em permanecer num estado emocional menos maduro quando nossa natureza já suporta maior ampliação de consciência.

Sofremos por medo e, por medo de sofrer, sofremos.

Tentar ser responsável pelos outros já nos fez sofrer muito: sacrifícios não reconhecidos, desconsideração, frustração, impotência, mágoa. Assim tendemos a temer a responsabilidade sentindo-a como um peso, um desconforto, algo sufocante e aprisionador.

Mas se somos humildes e resolvemos assumir responsabilidade somente por nós mesmos, a sensação é oposta. Alívio, leveza, liberdade.

Afinal, só sou responsável realmente por mim mesmo. Amadureço se me assumo totalmente responsável por esse elemento humano, esse EU, arcando com as conseqüências de todas minhas escolhas. Aí sinto novamente o poder em minhas mãos. Sou Rei em mim.

Se escolho amadurecer em responsabilidade, amplio meu grau de consciência, percebo-me como ser multidimensional. E a cada passo na amplidão do espectro de consciência, amplio minhas percepções ao ponto de perceber todas as possibilidades e viver, ao mesmo tempo, todas as sensações de todas experimentações do personagem que sou em todas as dimensões espaço-temporais. Percebo as conseqüências de minhas escolhas em cada possibilidade de realidade. E por questão de respeito próprio opto sempre pelo melhor. Se minha vida é feliz agora, é feliz sempre.


Assim como o ultimo arcaniano Griffin de “Homens de Preto 3” (MIB 3 – 2012).




5 comentários:

Felipe S. Quartero disse...

Muito bom, Renato! Esse assunto é uma ótima viagem a ser feita, interessante seu enfoque e o modo como posicionou o tema responsabilidade dentro do contexto. Achei algumas frases do texto bem poéticas e filosóficas, algumas me lembraram koans zen-budistas hehe.

Para enriquecer as referências cinematográficas do post, deixo a indicação de um filme que acho que permeia muito bem tudo que você costurou. "Questão de Tempo", ou, no original, "About Time": http://www.adorocinema.com/filmes/filme-201760/

Sobre nossa queridíssima Johansson, concordo plenamente! Foi a coisa mais certa que escreveu nesse post e, quiçá, em toda história desse blog!

Aquele Abraço! Sempre bom te ler em suas loucas e adoráveis viagens!

Namastê ;)

Renato disse...

Salve Felipão!!!
Fico grato pelas considerações, agradeço a dica do filme, vou procurar.
Quanto a Scarlet... sem comentários... ;-)

Grande abraço!

manoel disse...

Muito bom isso Renato. Grato pela indicação dos filmes!
Baita abraço

manoel disse...

O amigo Renato conhece Mecânica Quântica? Seus estudos ao que me parece têm boa sustentação na Mecânica Quântica.
Abração

Renato disse...

Salve mestre Manoel, sempre bom saber que vc passou por aqui. Quanto à mecânica quântica, sou um leigo curioso do assunto. Deveria até estudar mais. Muito do que escrevo aqui é fruto de inquietações, baseadas em livre interpretação de observações, experiências próprias, filmes e leituras diversas. E seguimos caminhando. Grande Abraço!