terça-feira, 22 de agosto de 2017

Palhaços, dimensões paralelas e outras coisas mais!


Eu vi Bingo e gostei!

“Bingo, o Rei das Manhãs” tem direção de Daniel Rezende, editor de nada mais nada menos que “Cidade de Deus”. Conta um período da vida de Arlindo Barreto, um dos interpretes do palhaço Bozo no Brasil.

O filme é repleto de méritos, a começar pela produção e direção de arte, a cargo de Cássio Amarante. A paleta de cores em tom sépia dá uma sensação nostálgica e acolhedora. Cenários, figurinos e objetos de cena remetem eficazmente à década perdida. Lembra muito o trabalho desenvolvido na série da HBO, “Magnífica70”.

O casamento se completa com a exímia trilha sonora, totalmente contundente com a época retratada e amalgamada ao contexto, como exemplo do recente “Em Ritmo de Fuga (Baby Driver)”, funcionando quase como personagem da história.

A fotografia é caprichada, passando longe do vício brasileiro dos três pontos, usado à exaustão nas novelas.

Quanto a Vladmir Brichta, que sempre achei meio canastrão, faz um trabalho maravilhoso. Talvez porque seu overacting se ajuste à personagem.

Direção e produção se complementam de maneira competente fazendo o que avalio como um dos melhores filmes nacionais que já assisti.

Considero um filme competente quando saio do cinema com a sensação de ter sido transportado para uma época, uma cena ou uma história.

Poderia debater uma série de outros pontos, mas o que mais me intrigou ao assistir Bingo foi a nostalgia de um tempo em que o politicamente correto não existia.

Lembro-me das roupas mínimas com que a Xuxa apresentava seu programa. O auge pra mim, ainda criança, foi ouvir às 10h da manhã aquela música “Pipi Popô”, enquanto a loira comandava uma gincana de meninos contra meninas. Eu desliguei a TV naquele dia com vergonha.

Então imagine um Bozo apresentando seu programa totalmente chapado de cocaína?!



A vida na sociedade dita civilizada tende a ser pautada pelo senso comum e por isso repleta de hipocrisias.

Desde cedo aprendemos e nos acostumamos com as mentiras.

Toca o telefone, a criança prestativa atende. É a vizinha chata, a criança tenta passar o telefone para um adulto responsável, mas o que ela ouve é um pedido indecoroso: “Diz que a mamãe saiu”.

Mais de uma vez já aconteceu a velha anedota, a criança volta ao telefone e diz, inocente: “Minha mãe mandou avisar que não está”.

Outras distorções são aprendidas, quando a criança vê uma pessoa muito gorda, ou muito velha, ou muito estranha, aponta o dedo e se inflama. O adulto responsável ensina: “Não aponta que é feio!”

A criança entende: Não fale o que sabe. Não fale o que sente. Não fale a verdade. E assim passa a desconfiar dos adultos. Não educamos. Apenas reprimimos.

De tempos em tempos a hipocrisia social atinge níveis mais intensos resultando em distorções e censuras excessivas, desproporcionais. Foi assim durante a sagrada inquisição. Foi assim com o AI5. Recentemente surgiu uma anomalia semelhante batizada de “politicamente correto”.

Não existe contradição maior do que uma política correta. A história tem demonstrado que o exercício da política não admite a ética. Não no nível evolutivo na sociedade dita civilizada.

Então, nestes tempos em que a hipocrisia mais uma vez impera, surge como bálsamo esse filme, essa memória.

Nostalgia similar me envolveu ao assistir a série “StrangerThings”. Muitos já vinham me recomendando esta série, mas só agora, de férias, pude investir nela e me senti muito recompensando.

A série trata de um grupo de crianças que se dedica a encontrar um amigo desaparecido. Telecinese, telepatia, dimensões paralelas e uma horda de referências à década perdida tornam a atração incontestável.

É interessante imaginar que um bando de crianças consegue fazer de bobo toda uma organização governamental, acobertando e resolvendo os mistérios à sua maneira. As crianças da série pouco contam com os adultos, simplesmente por desconfiar deles.

Os adultos não sabem lidar com a verdade.

Aquilo que não admitimos acaba extraditado para dimensões paralelas, mas não deixa de existir. Em algum momento o que foi encoberto ressurge, muitas vezes de forma grotesca e alarmante, a fim de não ser renegado.

Os monstros precisam ser confrontados, a verdade aceita. Daí progredimos.

O maior exemplo de grotesco é o próprio palhaço, sempre presente nas grandes cortes e único capaz de falar todas as verdades sem ser punido. O palhaço representa esse ser multidimensional, remete à pureza da infância, a um tempo em que as mentiras não existiam ou não tinham função.

Sinto falta de um tempo em que podíamos rir de nossas esquisitices. Temo quando os palhaços começam a ser reprimidos. Nunca se sabe que tipo de monstros podem surgir de outras dimensões.

E o que seria do brasileiro sem sua irreverência?!




5 comentários:

Unknown disse...

Muito bom, precisa postar em outras plataformas, ninguém mais lê blog. Tenta o médium ou o reggedit

Unknown disse...

Muito bom, precisa postar em outras plataformas. Ninguém mais lê blog

Anônimo disse...

Estamos perdendo tempo postando mensagens para um bando de zumbis e idiotas úteis alienados que as vezes caem de paraquedas no seu blog ou no meu face. Estamos jogando nossas palavras ao vento, igual a um louco que fica pregando no meio da praça sem platéia. Eles preferem as redes sociais a coisas mais úteis. Cara, precisamos mudar nossas estratégias porque perder tempo para dois ou três lerem e solicitar para um circulo bem restrito é quase que implorar para que alguém veja para que nossas palavras não fiquem perdidas. Agimos como idiotas e eu também me incluo nisso. Zumbi fala com zumbi, prefere coisas de zumbis e estamos tentando conversar com zumbis entende?! Sabe, eu cansei... Temos que parar com isso, refletir, rever nossas estratégias e seguir em frente como pessoas lúcidas! Vejo gente lúcida jogando fora suas palavras também no youtube, quando apenas meia dúzia realmente está interessada, o resto está lá porque não tem mais o que fazer!

Anônimo disse...

Há, não me esquecendo. Se está postando como forma de ter guardadas suas palavras, como eu faço, cheguei a conclusão que também é perda de tempo! Está guardando para você e eu apenas para mim... Cara, precisamos sermos vistos e compreendidos, mas na minha opinião não será desta maneira! Prefiro enviar uma carta de amor para uma mulher que ao menos a lerá e talvez mostrará para as amigas para depois me dar um pé na bunda do que ficar jogando preciosidade para o vento esperando por um milagre! Isso é muito pontual atualmente, as pessoas leem uma vez e se esquecem no dia seguinte, entende!?

Milton disse...

Boa tarde! Parabéns pelo trabalho Renato. Um abraço.