quinta-feira, 3 de novembro de 2011


No fim do Arco-Íris

Todo mundo já ouviu aquele história de que no fim do arco-íris existe um pote de ouro. Não sei qual a origem deste mito, mas pergunto: Você já alcançou alguma vez o fim de um arco-íris?

A física explica a formação deste fenômeno como a refração da luz do sol em gotículas de água das nuvens ou da chuva, como se a água formasse um cristal na qual a luz branca incide, decompondo-se nas famosas sete cores. O arco-íris não deixa de ser um fenômeno de projeção de luz. Por mais que tentemos perseguir o seu local de inicio ou de fim, não se trata de algo exatamente tangível, ainda que a definição de luz seja controversa para aqueles que não são iniciados nos mistérios da física. Luz é definida como um não sei o que entre a matéria e a energia: os fótons.

Quanto mais você persegue o arco-íris, mais ele se distancia. Muitas vezes se desfaz, revelando-se uma projeção ou uma ilusão. E nada de pote de ouro.

Semelhante é nossa busca pelos tesouros da vida. Desde cedo, educação, pais, escola, mídia e sociedade nos propõe a busca de certos objetivos considerados importantes para um ser humano se realizar. Um bom emprego, conseguir se sustentar, encontrar a cara-metade, constituir família, enriquecer, prosperar, carro do ano, casa na praia, TV de plasma e tablets e vídeo-games para as crianças no natal.

Há sempre um tesouro a alcançar. Mas por mais que nossos objetivos sejam conquistados, após uma momentânea alegria, surge um algo mais. E reiniciamos a jornada até o fim do arco-íris.

Muito na filosofia já se falou da eterna busca. Há essa permanente sensação de que sempre nos falta algo. Mudamos o cenário, trocamos os objetos de desejo, mas a busca nunca para.

Freud dizia que a sensação de completude e conforto só existia no calor do útero materno. Após o trauma do nascimento somos condenados a uma aflitiva sensação de incompletude e, por mais que caminhemos, não há retrocesso nem retorno ao ventre. Saímos do útero da mãe com apenas um destino certo: o útero da terra.

Para os budistas, falando de forma simplista, sofremos porque desejamos. Eliminem os desejos, e os sofrimentos desaparecerão.

Daí a idéia do Nirvana, como renuncia aos desejos, focando numa elevação espiritual, aí sim, repleta de completude. O pote de ouro dos budistas tende a ser transcendental, talvez tão etéreo quanto o arco-íris.

Recentemente concluí a leitura da obra “Consciência Cósmica”, de autoria do médico canadense Richard Meurice Bucke. Foi interessante a maneira sincrônica como cheguei à ele. Boa parte da leitura realizei sob a benção de uma praia paradisíaca.

A versão que encontrei é uma primeira versão de 1996 editada pela AMORC. A primeira edição Americana data de 1901 e o autor viria a falecer um anos depois, ou seja, antes do entendimento de conceitos como Self e inconsciente coletivo.

Dr. Buke foi psiquiatra, dirigente de um sanatório e grande amigo do poeta americano Walt Whitman, de quem teria escrito uma biografia.

O saudoso doutor aborda de maneira bastante científica um fenômeno que experienciou pessoalmente: a consciência cósmica.

Descreve como uma sensação de banho em luz e calor, como um fogo, seguido de sensação de bem estar, convicção de eternidade da vida e conexão com todos os entes do universo.

A experiência foi-lhe tão arrebatadora que percebeu a necessidade de pesquisar e esquadrinhá-la numa obra, onde inicia por estabelecer sua tese evolutiva, aos moldes do conceito darwinista, de que todos os seres humanos, assim como passaram da consciência simplista para a autoconsciência, também passarão da autoconsciência para a consciência cósmica.

Daí faz um estudo de diversos casos de pessoas notáveis que, por sua análise, considera detentores ou experienciadores da nova faculdade, passando por nomes como Buda, Cristo, Paulo, Maomé, até Dante, Sheakspeare e o próprio Walt Whitman.

Ressalta ainda a apreciação que as filosofias orientais sempre dispensaram a tal fenômeno, tão pouco aludido nas ciências ocidentais. Em particular, as buscas dos yoges e budistas do estado de Nirvana. Por exemplo, notando como característica de alguns dos casos estudados, que o fenômeno de consciência cósmica é muitas vezes precedido de um estado de silencio mental. Daí a procura da meditação como caminho para muitos sábios, a fim de se criarem condições propícias para o fenômeno.

Fiquei sensibilizado com a profundidade e coerência de seu texto, principalmente em se tratando de um estudo datado de mais de um século.

O que tem isso a ver com o pote de ouro no fim do arco-íris?

Percebo que se há um objetivo pelo qual realmente valha à pena caminhar, a expansão de consciência é esse objetivo, e a experiência de consciência cósmica é a cereja do bolo.

Mas nosso doutor faz o favor de lembrar a aparente espontaneidade do fenômeno nos casos estudados. Ou seja, não é você que chega à consciência cósmica, mas a consciência cósmica que se derrama sobre você.

Assim como Buda sob a figueira ou Cristo no deserto. Fecha teus olhos, senta-te sobre teu próprio ser, relaxa, respira e contempla então o tesouro que esteve o tempo todo dentro de ti. E ao abrir os olhos rejubila-te com o arco-íris ao teu redor.


5 comentários:

Rodrigo Giovanetti disse...

Com precisão, Renato acerta na perspectiva psicanalítica sobre o DESEJO. Inevitável retomar a idéia do filme em Shirley Valantine: a vida fica cristalizada quando não se pode mais desejar, portanto é necessário até mesmo falar com as paredes para poder por o desejo em cirvulação! E vejam que ela viaja para a Grécia depois desse bate-papo "pedreira"!
Valeu Renato, por nos lembrar de que se o DESEJO morrer, nosso destino é o do Nirvana, princípio que Freud invocou para justificar a pulsão de morte! Abçs.

Anônimo disse...

Perfeito!
Obrigada por essa bela reflexão. Que nossas ilusões de dissipem e que possamos viver plenamente em consciência cósmica! NAMASTÊ
Com amor,
Tais

Anônimo disse...

Perfeito!
Obrigada por essa bela reflexão. Que nossas ilusões de dissipem e que possamos viver plenamente em consciência cósmica! NAMASTÊ
Com amor,
Tais

Anônimo disse...

Acredito que nosso planeta esteja passando pela fase de expurgo e chegará tempos em que nos tornaremos conscientes não apenas por um efeito moral, mas pela necessidade de nos tornar pessoas melhores,

Edya

Um olhar etílico da vida disse...

Bora meditar