domingo, 12 de fevereiro de 2012

Os Buracos de Minhoca e a Auto-Estima


Há muito que a ficção científica brinca com a possibilidade de viagens interestelares e intertemporais. Romances, contos e filmes vêm explorando a idéia de viajarmos para além dos limites da atmosfera terrestre quase com tanta intensidade quanto as viagens no tempo, para o passado, para o futuro ou para realidades alternativas.
No plano da nossa atual realidade, viagens no tempo e no espaço, ou para além do tempo e do espaço, são tema de vasta interpretação com diversas perspectivas. Pessoalmente, sei pouco a respeito, mas até onde minha ignorância permite, entendo que nossa tecnologia não suportaria hoje transcender muito mais que os limites de nossa Lua. Quanto às viagens no tempo, até teoricamente há divergências sem fim.
Solução viável para nos realocarmos, tanto em diferentes distritos do espaço quanto em planos alternativos do tempo, seriam os buracos de minhoca.
Teoricamente em algum momento nos será possível abrir portais para infinitos planos do espaço-tempo. Se isso é verdade, pode estar acontecendo em alguns dos infinitos planos exatamente agora. Mas precisaríamos de uma máquina para isso. Ou não?
Vem martelando-me a idéia, talvez não tão original, de que as viagens no espaço-tempo seriam possíveis de uma forma muito mais fácil, sem a necessidade de parafernálias tecnológicas, mas com a simples indução de um estado psicoemocional.
Com meus pacientes uso sempre a lembrança dos bolinhos de chuva que minha avó fazia em minha infância como exemplo de como podemos alterar a bioquímica de nosso cérebro. Basta lembrar dos deliciosos quitutes, preparados com esmero, banana e canela, que minha boca se enche de saliva. Até o aroma me vem às narinas. Meu corpo todo recebe o sinal de que vem coisa boa por aí. E tudo não passa de um estado psicoemocional induzido por uma lembrança.
De forma similar, sintomas materializam-se no corpo de pessoas em estado de sofrimento emocional, mesmo de forma inconsciente, sem aparente origem num desequilíbrio biológico. Doenças “criadas” pela mente; psicossomáticas.
Hoje sabemos também que estados induzidos por técnicas diversas, como a meditação por exemplo, criam sensações de bem estar e até melhoram a saúde física, sem necessidade de se apelar a drogas de qualquer tipo.
Através de prática na arte de disciplinar a mente podemos de fato criar um estado emocional diferenciado, alterar a maneira como percebemos os estímulos sensoriais e definir como podemos, ou queremos, ser afetados pela realidade.
Dalai Lama disse certa vez que existem cerca de sete bilhões de religiões no mundo, referindo-se à maneira como cada ser humano entende o processo de religar-se às forças do cosmos. Ora, cada ser tem uma maneira de ver o mundo que lhe é própria, herdada culturalmente e acrescida de suas percepções ao longo de suas experiências pessoais ou até pelo acaso. Cada ser humano vive em sua própria realidade.
Quando amadurecemos no entendimento de como percebemos a realidade, mudamos o modo como ela nos afeta. Mudamos a forma de ver o mundo. E, sem sair do lugar ou exercer qualquer ação externa, mudamos o próprio mundo. Mudamos a realidade.
Num mesmo mundo habitam diversos seres e, num mesmo ser habitam diversos mundos.
Assim, porque não seria possível transcender as aparentes barreiras físicas? Através da imaginação podemos habitar mundos longínquos, diminutos ou gigantescos, de inúmeras formas, consistências e aparências, em qualquer momento da linha do tempo, em qualquer localidade do espaço, entre os diversos planos prováveis ou improváveis, sem que para isso seja necessário mover um músculo.
Com o estímulo certo, provocamos toda uma alteração psicoemocional referente ao local ou situação do espaço-tempo que pretendemos alcançar. E com o esforço adequado da vontade e do poder de crença poderemos, quem sabe, de fato materializar esse novo plano de realidade.
Os buracos de minhoca seriam reais, criados com o poder de nossa mente. E os mapas estelares não seriam mais que representações das nossas redes neuronais.
A aparente brincadeira de crianças em As crônicas de Nárnia contrasta décadas de aventura num reino distante com apenas alguns momentos de confusão dentro de um antigo armário.
O filme Contato fala da polemica da possibilidade de contatos extraterrestre, não com espaçonaves, mas com uma gigante máquina que, aparentemente só gastou dinheiro público. Não quero estragar o final para aqueles que ainda não viram o filme, mas 18 minutos de estática numa fita de VHS são bastante reveladores. Seria só um estado alterado de consciência?
No filme Em algum lugar do passado a personagem do saudoso Christopher Reeve faz uma viagem no tempo, não com alguma máquina estranha nem com um delorean, mas através de hipnose auto-induzida.

Warren Ellis brinca com essas possibilidades na HQ Azul Profundo. Escreve baseado em suas experiências com drogas e nos registros com uma droga em especial, a DMT, cujos relatos de experimentação sugerem uma espécie de viagem no espaço-tempo comum a maioria dos usuários.
Assim como uma droga pode estimular uma área específica da mente, revelando experiências específicas, poderíamos chegar a estes estados com estímulos naturais. Quem sabe C. S. Lewis, J. R. R. Tolkien, Julio Verne e outros não foram viajantes do espaço-tempo que deixaram em suas obras pistas para novos aventureiros?
Talvez uma viagem espaço-temporal não nos seja possível agora, mas a mudança da forma como escolhemos ser afetados pela “realidade” está muito mais próxima do que imaginamos.
Fico comparando a dificuldade que encontro para deixar velhos e improdutivos hábitos, melhorar meu aproveitamento nas experiências do dia-a-dia, vencer os empecilhos pessoais que considero como entraves para uma vida plena.
Vejo as dificuldades que meus pacientes relatam em suas aventuras cotidianas, os sofrimentos às vezes inconscientes e inevitáveis.
Com meus pacientes esquizofrênicos aprendi o quanto a mente pode ser inquisidora, capaz de limitar nossas possibilidades de usufruir a vida.
Percebo que criamos em nossa mente uma tendência para valorizar o negativo, em suas mais diversas formas e expressões. Lembro de minha infância e sou capaz de narrar uns cem números de experiências positivas, mas é a meia dúzia de situações negativas que fico repetindo e rememorando à exaustão.
Uma tendência sócio-cultural, aprendida, que programa nosso cérebro para nos auto-caluniar.
Essa tendência influi na criação do mundo que cremos viver.
Para criarmos um mundo melhor é preciso exercitar e desenvolver a habilidade de reconhecer o que temos e vivemos de positivo, até naquilo que parecia ser negativo.
Para expressar melhor o que quero dizer prefiro usar as palavras de José Luiz Tejon:




(Não consegui adicionar a continuidade da entrevista, mas vejam aqui.)

Aprendemos a nos ver na infância, a princípio, projetando a partir de nós mesmos a imagem que nossos adultos responsáveis e parceiros de convivência lançaram sobre nós. Experiências de auto-imagem positiva na infância tendem a moldar auto-estima sadia na vida adulta. Mas nem todos têm referência de adultos responsáveis, sábios ou ternos.
Aí resta se auto-referenciar, a partir da busca pessoal de uma nova auto-imagem, positiva.
Mudo a maneira de me ver ao reconhecer o que tenho de bom. Mudo minhas sensações e impressões para comigo mesmo. Mudo a maneira que escolho afetar-me pela “realidade”. Mudo minha própria realidade. E de repente sou capaz de alterar até minha experiência de espaço-tempo materializando de fato uma realidade mais promissora e aprazível.
Começo dizendo “sim” para mim. Até criar o buraco de minhoca que me leve a uma nova dimensão de mim mesmo.
Por que não?!?
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6 comentários:

Felipe S. Quartero disse...

Parabéns Renatão! Belíssimo post, muito bom! Abração!

manoel disse...

Grande mestre Renato! Você sabe muito bem como o povo tem dificuldade dee deixar passar os acontecimentos negativos. Mas deveria, porque é com aquilo que damos importância que construimos a nossa realidade. E assim como não existe dois seres iguais, também não existe duas realidades iguais. Quanto à viagens, também estou contigo, a vastidão dos universos impossibilita as viagens longínquas com qualquer espécie de máquina, pelo mesnos das que conhecemos ou imaginamos, todavia com nosso corpo astral, livre do peso do corpo físico, acrdito que podemos viajar para qualquer galáxia ou dimensão.
Gostei muito do posto, como sempre.
Parabéns
manoellima-oviajor

Anônimo disse...

Oi Renato, gosto muito das coisas que escreve, pois nos fazem refletir um pouco mais.
Parabéns por sua reflexão e por compartilhá-las conosco.

Um abraço, Ieda

Anônimo disse...

Essa das 11e55 eu sei quem foi quem escreveu.
Em breve, voces poderao usufruir de uma viagem no espaco-tempo dentro de uma hidromassagem vertical, afinal, viagem ao passado acredito ser desnessessaria e extremamente perigosa (segundo a teoria de Ainsten), mas viajar para o futuro sim e uma possibilidade real, nao apenas no imaginario, mas na realidade cotidiana.
Essa futura capsula espacial, tem ate radio am/fm e televisao de bordo, coisa da Nasa e acompanha uma cama de casal.
Tenha muitas boas viagens.
Um grande abraco...

FÁTIMA ZANOTTO disse...

gosto muito da forma com que você escreve, o jogo das palavras permite "viajar" com você. É uma aventura e tanto!!!

Anônimo disse...

Viajar no tempo exige desprendimento.
Uma vez que a experiencia sempre modifica o viajante, qualquer que seja a viagem, para o futuro ou passado.
Comece a relativar os seus pre-conceitos, sejam bons ou maus, e talvez consiga abertura suficiente para umas boas viagens temporais.

do maninho que ta longe