sábado, 16 de fevereiro de 2013

Escolhas...





O Papa renuncia, um meteoro atinge a Rússia, terremotos na Nova Zelândia, chuvas castigam São Paulo, atentados criminosos em Santa Catarina...

Percebo uma sensação de ameaça, pavor, insegurança e medo.
Parece que nada está sob nosso controle.
Vulnerabilidade. Impotência.

Contrariando todas as expectativas, não tenho poder consciente sobre o clima e as estações, não tenho poder sobre as decisões alheias nem sobre seus humores. Não tenho como prever escolhas nem reações. Nem as minhas. Nem sobre a biologia de meu corpo.

Um vírus pode estar me atacando neste instante, ou um tumor maligno, um câncer, matando-me e não tenho a menor consciência ou poder de decisão sobre estes fatos. Nem o controle sobre meus intestinos é suficiente para livrar-me de um ocasional vexame a partir da inesperada profusão de gases flatulentos, supondo ainda a melhor das hipóteses.

Há poucas coisas sobre as quais posso efetivamente determinar uma decisão, exercitar controle e experimentar precisão de acordo apenas com a minha vontade.

Ter consciência dessa vulnerabilidade faz sentir-me à mercê das mais diversas intempéries. Logo, a primeira sensação pode ser medo. E a possível reação seja procurar alguma maneira de proteger-me e assegurar-me. Procurar uma situação conhecida e confortável que permita o mínimo de estabilidade e domínio. Ainda que ilusoriamente.

Dito assim, é fácil entender a suposição de Freud a respeito da simbiose entre mãe e filho ao longo da gestação humana como momento de plenitude e segurança do ser, marcado pela traumática cisão do nascimento subseqüente que seria então a origem da sensação de ausência que habita o âmago de todos os seres.
Na esperança vã de preencher o vazio, reatar a cisão do nascimento, os humanos buscam constantemente por objetos de afeto. Companheiros sexuais, relacionamentos sociais, comportamentos compulsivos e vícios variados, construção de famílias, de empresas ou qualquer situação de busca de prestígio e realização seriam apenas maneiras de tentar completar-nos, preencher o vazio que nasceu no nascimento do ser.

Estudante do misticismo, a maneira como venho entendendo o budismo, o taoismo, as idéias de Jung, Joseph Campbell, Osho e Jodorowsky, revelam-me algo mais. Coincidindo com as idéias de Don Miguel Ruiz, posso entender o nascimento, a puberdade e a maturação humanos como fases pelas quais a maioria de nós passa sem sequer ter nascido realmente.

O nascimento biológico é um processo animal, natural. Mas o nascimento da consciência de nossa existência, de nossas habilidades e poder de escolha requer outros fatores de âmbitos até sobrenaturais.

A autoconsciência não acontece para todos. Basta observar as ruas na hora do rush para perceber manadas de humanos trafegando em caminhos pré-determinados por seus ancestrais, como formigas determinadas pela programação dos genes, indo e vindo com mentes em devaneio, sem presença de espírito nem consciência profunda de si, repetindo diariamente os mesmos comportamentos.

Não existe liberdade quando você não tem consciência do seu poder de escolha.

Mas se somos tão vulneráveis, se o determinismo genético, as condições mesológicas, as ditaduras culturais e imposições das mídias nos limitam tanto, sobre o que realmente podemos exercer nosso poder de escolha?

Deixo o convite aos meus leitores para argumentarem e tentarem responder esta pergunta antes de dar sequência a essas perturbantes idéias daqui duas semanas.

Sintam-se a vontade para exercer a liberdade de opinião e escrita, deixem seus comentários e análises. Vamos debater....

Até breve!  

5 comentários:

Anônimo disse...

une dune te... ou tira no cara e coroa....

Felipe S. Quartero disse...

Bom Renatão, primeiramente parabéns pelo post. Podemos exercer nosso poder de escolha sobre nós mesmos, sobre o que pensamos, falamos e fazemos. Claro que isso é dificultado pelos condicionamentos, mas com um trabalho de autoconhecimento e auto-observação é possível. O caminho é a ampliação da consciência de si, não vejo outro.

Acho que podemos fazer escolhas, mas controle, não temos. Controlar é conter, represar, muito melhor é soltar, deixar fluir, deixar a correnteza passar. Nosso poder de escolha não é sobre a direção dos ventos, é sobre a posição das velas de nosso barco e nada mais. Escolher, cada vez mais; controlar, cada vez menos... talvez seja esse o segredo.

E falando em escolhas, tenho escolhido distância dos telejornais e notícias da internet, está fazendo um bem. É preciso desligar um pouco e escutar a si mesmo para poder pensar, como dizia um comercial de uma escola de inglês, se não me engano, "fora da caixinha".

A escolha fundamental é: pensar e escolher por conta própria, ou deixar que o façam por nós.

Conhece-te a ti mesmo e então saberás escolher.

Acho que é por aí... Abração Renato! ;)

Felipe S. Quartero disse...

Ainda falando sobre escolhas... você assistiu ao filme "A Viagem" que está nos cinemas? Tem tudo a ver com a conversa aqui. Recomendo!

Renato disse...

Grande Felipe, sempre muito bem com as palavras, esse é o ponto onde eu queria chegar... quanto ao "A Viagem", pensei muito em escrever algo sobre ele. Ainda estou matutando. Seguimos escolhendo. E saboreando os ventos.

fico grato pelas reflexõs

um grande abraço

Lucélia Muniz França disse...

Também participo da Cia dos Blogueiros! Bem Vindo! Parabéns pelo Blog! Um abraço! Ótimo final de semana!
http://www.luceliamuniz.blogspot.com.br/